domingo, 11 de fevereiro de 2018

NEO PURITANISMO?

O cineasta austríaco Michael Haneke, duas vezes ganhador da Palma de Ouro em Cannes, considera que o movimento #MeToo (Eu também), que ao longo dos últimos meses conseguiu reunir milhares de mulheres que em alguma ocasião foram assediadas para denunciar os abusos sexuais que sofreram, se transformou em uma “caça às bruxas” que gera um novo “puritanismo” que prejudica a criação. “Esse novo puritanismo me preocupa, impregnado de ódio aos homens, que nos chega no rastro do movimento #MeToo”, disse o diretor de cinema, autor de filmes como A Professora de Piano (2001) e Violência Gratuita (1997), em uma entrevista ao jornal austríaco Kurier nessa semana.

“Como artista, começo a estar confrontado pelo medo diante dessa cruzada contra qualquer forma de erotismo”, afirmou Haneke. Segundo ele, “O Império dos Sentidos, de Oshima, um dos filmes mais profundos sobre a sexualidade, não poderia ser filmado hoje”. E acrescentou: “Evidentemente, qualquer forma de violação e abuso sexual deve ser punida. Mas essa histeria e as condenações sem julgamento que vemos hoje me parecem repugnantes”, acrescentou o cineasta, de 75 anos.

Para o diretor de A Fita Branca (Palma de Ouro, 2009) e Amor (Palma de Ouro e um Oscar em 2012), que não foi alvo de nenhuma acusação, “cada enxurrada de críticas que essas revelações causam, até mesmo nos fóruns da Internet de jornais sérios, envenena o clima na sociedade”. Haneke considera que esse ambiente de “caça às bruxas torna cada vez mais difícil um debate sobre esse assunto [o assédio sexual] tão importante”.
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El País, Viena/Madri, 11/02/2018, 13:39 hs

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