segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

SEM PSICOPATOLOGIA

Falemos do caso Brasil. A psicopatologia é uma ferramenta importante da psiquiatria clínica.Ou, pelo menos, deveria ser. No entanto, em tempos atuais ela está em baixa. Não se fala e não se pesquisa psicopatologia. Só há transtornos mentais orgânicos, mesmo não sendo, com suas descrições encaixotantes. A psicopatologia tornou-se uma neuromania, inclusive midiática. O vazio epistemológico deixado é preenchido pela vontade de controle da psiquiatria biológica. Tal vontade opera no cadastramento dos desvios de conduta, do dito mau comportamento social, do irracionalismo do eu e se traduz como diagnóstico de sintomas (sintomatológico). Transtorno do pânico é um exemplo entre muitos. Em tal contexto, a loucura se alastra, não como experiência de abertura a novas semióticas, mas como esvaziamento do sentido da existência, fim de mundo, apocalipse, noite eterna, inferno astral. Em linguagem clínica, depressões, histerias, pânicos e psicoses pra todo lado. Daí a alta cotação das religiões no mercado espiritual do medo. A ideação suicida, o próprio suicídio, ou a auto-flagelação de jovens são índices da angústia inominável produzida no tecido social. Diante de tudo, uma psiquiatria sem pesquisa psicopatológica não só cauciona o sofrimento psíquico como dele retira lucro, poder, prestígio, reverência e status social. A medicina está aí para oferecer um tipo de guarda-chuva jurídico-científico-institucional, abrigando-a em práticas clínicas conservadoras, sem incluir o vetor social como gerador de doenças. O cérebro, tão complexo, vira coisa e fetiche.

A.M.


Obs.: texto ampliado e republicado.

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