A FALA NORMAL
"Ele não fala coisa com coisa". Tal enunciado, quando dito no âmbito da clínica em saúde mental, traduz o profundo desprezo do técnico para com o paciente. Nele está contido o discurso da razão utilitária, o mesmo que sustenta o funcionamento do aparelho psiquiátrico. Mas esse discurso não se compõe apenas da psiquiatria biológica. Ele conserva em si mesmo crenças instituidas sob os ideários mais diversos.Um exemplo: a religião. Em geral, revestida por um humanismo piedoso, a religião não gosta que o seu fiel descarrilhe a fala, ou seja, não fale coisa com coisa. Mesmo os delírios mais inebriantes devem ser enunciados com rigor sintático e retórico. Curioso: tal modelo é exportado com sucesso para a academia, a política, a ciência, o direito, a mídia, etc...
A.M.
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