UM MUNDO QUE NOS EXCLUI
Que
esconde a mentira dos signos amorosos? Todos os signos
mentirosos emitidos por uma mulher amada convergem para um mesmo mundo secreto:
o mundo de Gomorra, que também não depende desta ou daquela mulher (embora
determinada mulher possa encarná-lo melhor do que outra), mas é a
possibilidade feminina por excelência, como um a priori que o
ciúme descobre. O mundo expresso pela mulher
amada é sempre um mundo que nos exclui, mesmo quando ela nos dá mostras de
preferência. Mas, de todos os mundos, qual o mais exclusivo? "Era uma terra incógnita terrível a que eu acabava de aterrar, uma fase nova de
sofrimentos insuspeitados que se abria. E, no entanto, esse dilúvio da
realidade que nos submerge, se é enorme a par de nossas tímidas e ínfimas
suposições, era por elas pressentido (...) o rival não era semelhante a mim,
suas armas eram diferentes, eu não podia lutar no mesmo terreno, proporcionar a
Albertina os mesmos prazeres, nem mesmo concebê-los de modo exato." Nós interpretamos todos os signos da mulher amada, mas no final dessa dolorosa
decifração nos deparamos com o signo de Gomorra como a expressão mais profunda
de uma realidade feminina original.
(...)
G. Deleuze in Proust e os signos
Nenhum comentário:
Postar um comentário