DE QUE LADO ESTÁ A POLÍCIA?
O bárbaro assassinato de Marielle, cujo eco libertador ressoa a cada hora com força cada vez maior por toda a pele do Brasil, também expôs o drama da polícia brasileira e a urgência de repensar uma instituição sem a qual não existe democracia. A polícia é instrumento de dominação de classe, inimiga do trabalhador ou parte do proletariado explorado? A magnífica entrevista do coronel da reserva Ibis Pereira, concedida a meu colega deste jornal Felipe Betim, trouxe-me à memória a manhã em que o cineasta e poeta italiano, autor de Teorema, Pier Paolo Pasolini, foi expulso do Partido Comunista por defender em um poema, publicado no maior jornal do país, Il Corriere della Sera, que os policiais pertenciam ao proletariado e os estudantes, à burguesia.
O ex-comandante da Polícia Militar Ibis Pereira, partidário do esquerdista PSOL, é um intelectual com vários diplomas universitários que, com a distância de meio século, lembra de algum modo Pasolini. Ambos apresentam uma visão clara e dramática da condição da polícia, apesar do meio século de distância. Polícia a serviço do conservadorismo e instrumento de dominação do poder da vez ou garantidora da segurança dos trabalhadores? Polícia de direita ou de esquerda, ou polícia simplesmente a serviço das pessoas? Não basta dizer que a polícia é corrupta, bandida, vendida ao tráfico, conivente com os piores políticos. O que urge é transformar uma polícia mal remunerada, mal preparada, com armas menos modernas que as dos inimigos, em uma instituição a serviço de toda a sociedade, que não precise se corromper e sinta orgulho de sua função social.
Para isso é urgente uma revisão, aqui no Brasil, do papel da polícia. Tema abordado pelo ex-comandante Pereira com grande isenção e lucidez quando diz: “O campo progressista está muito vinculado ao pensamento marxista de que a polícia é um instrumento de dominação de classe. Mas o policial é um trabalhador, dentro da polícia há gente querendo mudar. Esse policial está morrendo. Precisamos entender o seu drama humano.
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Juan Arias, El País, 20/03/2018, 10:34 hs
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