A DESTRUIÇÃO SECRETA
O Brasil costuma evocar a imagem de praia ou floresta, mas tem uma savana de dois milhões de quilômetros quadrados. O chamado Cerrado é como uma faixa que divide o maior país da América Latina pela metade: começa no Maranhão, ao norte, e vai descendo em diagonal ao longo de oito Estados até a fronteira com o Paraguai, no Mato Grosso. Separa o clima tropical e as florestas do Norte da Mata Atlântica e das cidades do Sudeste e do Sul. O que há no centro é savana pura. Quilômetros e quilômetros de sol, poeira e monotonia interrompida apenas por plantações gigantescas da agroindústria. Há tantas que se poderia pensar que se está nas planícies do Missouri. Faz tanto calor que parece Timbuctu. E, no entanto, neste mundo sépia e áspero está ocorrendo um dos maiores atentados à biodiversidade do planeta.
O Cerrado tem mais de 12.500 espécies de plantas, das quais mais de 7.300 só podem ser encontradas aqui. Abriga mil espécies de peixes e mais de 250 mamíferos: delas, 18 são autóctones. É a savana mais rica do mundo. E, então vêm as outras cifras, as preocupantes. Desde 1970, 47% desse bioma foi devastado. Somente em 2015, último ano com dados disponíveis, foram devastados 9.483 quilômetros quadrados. Para efeito de comparação, nesse mesmo ano a comunidade científica se indignou porque o desmatamento na Amazônia havia disparado, chegando a 6.207 quilômetros quadrados. O Cerrado é a verdadeira tragédia ambiental brasileira.
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Tom C. Avendaño,El País, Balsas (Maranhão)/Forquilha (Piauí)/Sussuarana (Tocantins), 24/03/2018, 19:42 hs
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