ELE PRECISA DE UM PSIQUIATRA - III
Seguindo a psiquiatria numa visão diacrônica, o paciente mental não está à espera do médico para ser atendido. Ao contrário, a instituição psiquiátrica é quem produziu (desde o século XIX) e produz hoje um modelo de paciente que deve buscar atendimento. Este será mediado pela família (leia-se, a sociedade) que solicita controle, se possível, imediato. Assim, a psiquiatria biológica, inserida no Mercado dos serviços de saúde, apresenta a sua mercadoria para legitimar a si mesma, inclusive e principalmente como ciência e especialidade médica. Transtornos mentais tornam-se mercadorias. As relações sociais (instituições) que precedem a prática clínica ficam encobertas pelo ideal humanitário da medicina. A"estranha" involuntariedade do paciente surge, então, como suposta resistência ao tratamento, ou mais profundamente, ao gesto de ajuda oferecido pelo médico junto à família. Ora, o essencial a reter desse enfoque do problema da involuntariedade é que o paciente não costuma ser escutado porque não "obedece" nem segue as linhas do modelo subjetivo estabelecido pela medicina curativa. O senso comum e o pensamento raso do psiquiatra biológico dizem "ele não colabora". Sob tais condições, o Encontro técnico-paciente será de antemão o desencontro.
A.M.
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