sábado, 17 de março de 2018

IDEIAS NINGUÉM AS TEM

Se pensarmos que estamos há 34 anos do fim da ditadura militar e há 29 anos da primeira eleição direta para a Presidência da República é preocupante observar que a nossa democracia já aparenta cansaço e desmotivação. O exercício da democracia pressupõe participação efetiva, ou seja, cidadãos livres que se engajam no debate público, alinhando-se a este ou aquele partido político, que tentará colocar em prática suas ideias ao alcançar o poder. Para isso, são necessários cidadãos livres, partidos políticos, ideias...

Não são cidadãos livres aqueles que não possuem as condições mínimas de sobrevivência: moradia e alimentação. Calcula-se que o déficit habitacional no Brasil chegue a mais de 6 milhões de famílias — e a insegurança alimentar atinge cerca de 52 milhões de brasileiros. Também é muito difícil ser um cidadão livre quem não teve acesso à educação formal, chave que abre as portas de um conhecimento mais sofisticado do mundo. Segundo o Instituto Paulo Montenegro, 27% da população brasileira é analfabeta funcional.

Partidos políticos, ou seja, agremiações que possuem um programa, com o qual os eleitores se identificam e que, portanto, os representam ideologicamente, na prática inexistem no Brasil. Segundo recente pesquisa CNI/Ibope, metade dos entrevistados não demonstra simpatia por nenhum partido existente — 19% citaram o PT, 7% o MDB e 6% o PSDB. Para 72% dos entrevistados o voto é dado ao candidato, independentemente da sigla à qual ele esteja filiado.

Ideias ninguém as têm. Os políticos brasileiros defendem interesses, não ideias. Segundo resultado da pesquisa CNI/Ibope, mais importante de tudo é que o candidato de predileção acredite em Deus — fato importante para oito em cada dez eleitores... Nesse sentido, a retórica, sempre vazia, tornou-se uma espécie de roupa que os políticos vestem para se apresentar nos palanques. Dependendo do público, usam um ou outro discurso — que serve, apenas, para iludir as massas.

A falta de partidos fortes, que defendam ideias claras, oferecendo soluções racionais para problemas objetivos, empurra nossa política para o colo de líderes personalistas — como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, mesmo condenado a 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, detém 36% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha. Ou para o colo de salvadores da pátria, como o deputado fascista Jair Bolsonaro — segundo colocado nas intenções de voto, com 18%.
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Luiz Ruffato, El País, 15/03/2018, 12:44 hs

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