segunda-feira, 12 de março de 2018

O COMBATE

No Encontro com as chamadas depressões, é possível notar a depressão sub-clínica. Cada dia mais comum, pouco notada talvez em face do modo de vida atual (com a sua corrosiva destruição do sentido), a vivência de estar deprimido não aparece de imediato ao olhar da consciência intencional nem a do senso comum. Revela-se, contudo, por outras linhas existenciais. São as do corpo das intensidades desejantes, o corpo que já "não aguenta mais". Ele está submisso, apassivado crônico às linhas de montagem do cotidiano das relações sociais e institucionais. "Dói tudo". Tal forma corpórea é, por vezes, inchada pelo uso excessivo e inadequado de psicofármacos, o que faz do paciente uma espécie de morto-vivo respirando à custa de aparelhos médicos. Corpo vazio, corpo sem alma, corpo abatido.  Nesse contexto, a função do técnico em saúde mental é inglória e em perfeito desacordo com as instituições dominantes. Ou, pelo menos, deveria ser.  Uma clínica que busque afirmar a diferença acolhe zumbis psíquicos do sistema. E tudo se torna combate silencioso e invisível. 

A.M.


P.S. - texto revisado, ampliado e republicado.

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