A CRISE DO CHILE
A maior crise política e social já sofrida pelo Chile desde o retorno à democracia em 1990, que deixou pelo menos 20 mortos, levou o presidente Sebastián Piñera a tomar uma decisão inédita: o país não será anfitrião nem do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em novembro, nem da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP25), em dezembro, duas grandes reuniões internacionais das quais participariam importantes líderes mundiais.
Ao anunciar sua decisão em La Moneda nesta quarta-feira, o presidente disse que o Governo adotou essa medida “com profunda dor”. “Sentimos e lamentamos profundamente os problemas e os inconvenientes que esta decisão vai significar tanto para a APEC como para a COP. Mas, como presidente de todos os chilenos, tenho sempre de colocar os problemas e os interesses dos chilenos, suas necessidades, seus desejos e suas esperanças, em primeiro lugar”, declarou.
O anúncio ocorre quase duas semanas após a explosão dos protestos, que começaram pelo aumento da tarifa do metrô de Santiago, mas revelam um profundo sentimento de frustração da população que se sente à margem do caminho de desenvolvimento do país nos últimos 30 anos. Os protestos não pararam. Piñera anunciou um pacote de medidas sociais e, na segunda-feira, mudou oito pastas de seu Gabinete, incluindo as de sua equipe política e econômica. Mas não foi suficiente: as manifestações continuam diariamente tanto em Santiago quanto nas outras grandes cidades do país. Segundo informações oficiais do Executivo, além dos 20 mortos, 473 civis e 745 policiais e membros das Forças Armadas ficaram feridos em incidentes ocorridos nas mobilizações. Entre os dias 20 e 27 de outubro, 9.696 pessoas foram detidas, das quais 389 continuam em prisão preventiva e 778 tiveram sua detenção declarada ilegal. O Ministério do Interior apresentou 228 acusações.
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Rocio Montes, El Pais, Santiago do Chile,30/10/2019,18:16 hs
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