A EQUIPE TÉCNICA COMO GRUPO
O que é involuntariedade em psiquiatria? É o fato do paciente não se achar doente, não se perceber como um doente, não se sentir doente, e, portanto, não querer tratamento. A aproximação de um técnico que ofereça ajuda lhe provoca rechaço, negativismo, indiferença, apatia, ou até hostilidade/agressividade. Este é um signo muito comum observado no campo da psicopatologia clínica, o qual, entre outros efeitos concretos, atesta a insuficiência do modelo biomédico nas práticas de saúde mental. Citando ao acaso, é possível incluir da nosologia psiquiátrica transtornos da personalidade, dependências de drogas, demências graves, retardos mentais, psicoses de variadas etiologias e semiologias (com sintomas positivos ou negativos, em especial as esquizofrenias), delírios sistematizados crônicos, transtornos do humor (formas de mania excitada e mania psicótica, e até mesmo depressões), entre outros quadros mal diagnosticados, alguns com diagnóstico obscuro, outros até sem diagnóstico. O essencial a considerar é que a maioria destes pacientes não quer tratamento, não sabe nem quer saber do que se trata, ou do que se passa. Ora, como é possível que exista uma especialidade médica, estranha especialidade, cujos pacientes não apenas não querem tratamento, como também não se sentem doentes? Na maioria deles a busca por tratamento é, sim, da família, ou dos que estão à volta (amigos, colegas, vizinhos, outros parentes, etc) e não dele próprio. Então, o problema que se coloca é o de que apesar de não querer e/ou desprezar ajuda (ou justo por isso) o paciente vivencia uma qualidade inferior de vida, e pior, pode estar correndo riscos (inclusive de morte) para si e/ou para outros. No nível mais agudo surge então a necessidade de criar um ou mais dispositivos técnicos que dêem conta dos impasses clínicos. A ética se insinua e se afirma como imperativo maior. Assim, nos parece que as soluções não virão da psiquiatria, (e não falamos só do psiquiatra, mas de todos os demais psiquiatrizados) atolada que se acha na visão organicista da doença. Esbarra no real clínico: o doente não aceita ajuda: o que fazer? Vamos concluir sem concluir: o caps, como lugar do funcionamento de uma equipe técnica transdisciplinar, é movido (ou deveria ser) pelo trabalho coletivo grupal. Ou não será caps. Isso talvez torne possível a invenção de outras clínicas, onde e por onde o grupo seja sujeito de si mesmo e não assujeitado a um modelo de cuidado previamente fixado pela medicina.
A.M.
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