sábado, 26 de outubro de 2019

VIAGENS DE MIGUEL

Miguel é a velocidade. Acorda com o tempo que lhe circunda e faz o tempo. Isso estimula o seu apetite de viver. Mesmo o acordar chorando se dissolve à medida em que percebe e deseja objetos, coisas, pessoas, meios que o constituem como ser vivo. Me chama de Antonio e cola o nome sobre o pai; isso me deixa atônito. Miguel capta o real para além dos enquadres toscos da razão. E me surpreende. Apesar do esforço em segui-lo, continuo um idiota adulto-racional buscando respostas exatas. No entanto, Miguel expande o desejo até paragens desconhecidas.O que ele pensa que é? Nunca saberei. Daí tento me recolher à insignificância dos homens cansados de viver a forma do Mesmo. Tento ser outra coisa,  devir-outro. Miguel se aproxima e diz: "pai, viaje comigo, seja a ventania; nos encontraremos onde o vento faz a curva". Resolvi aceitar a sugestão-bebê e lá me fui rumo à respostas que são eternas perguntas, não mais. A madrugada chegou e fomos dormir sem sonhos. Fabricar a manhã tornou-se um jazz ou um blues... ou um samba.

A.M.


Obs. - postagem original de 3 de novembro de 2012 (sábado)

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