sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O MÉTODO DA DIFERENÇA

Um   exame  do  humor pode explicitar o roteiro da diferença.  Os afetos  precedem  o  humor. Este   é  um  tipo  de afeto    resultante de  forças múltiplas :  bioquímicas, psíquicas,  sociais, coletivas, etc.  O  pesquisador (obtuso)  da mente prioriza  a primeira  força  em nome do  ideal  asséptico da ciência positivista. Tudo é cérebro como origem. Trata-se de  um reducionismo  fabricado em nome  da  razão médica. Ao inverso, buscamos detectar  afetos sutis que só se expressam (grosseiramente) como  depressão, e  daí se  inscrevem num rebaixamento da vitalidade. Isso pode  ser a  depressão como  “doença”  ou  tão apenas uma  síndrome ou  uma  reação depressiva  às circunstâncias sócio-metafísicas. De todo  modo, o encontro com  os  afetos busca a intensidade dos mesmos a partir das condições  subjetivas do  paciente. Qualquer um pode  deprimir à  medida em  que  vivencia a cultura  da culpa inscrita  na  carne. Somos todos  cristãos e deprimidos.  O paciente traz o humor como  um dado que muitas vezes lhe foi  inculcado: “sou  bipolar”. Trata-se  de  um  processo de  subjetivação  psiquiátrica que se impõe como verdade diagnóstica. Devires são cortados. O humor hipotímico“evolui” para um grau de vitalidade compatível  com  a doença psiquiátrica: ausência da vontade de viver.  Como recusar o grito desesperado do paciente? Claro que  há outras  depressões,  talvez  não  tão graves, mas necessitadas de atenção e acolhimento. No ato do encontro é possível  diferenciá-las  em função da demanda por  ajuda. O  humor  não  é como  a “glicose”, portanto  a sua medição não  é  a  “glicemia”. O humor é o desejo em uma de suas  expressões traduzidas num  contexto. 

A.M.

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