segunda-feira, 21 de setembro de 2020

10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO - 11

17 de novembro de 2011

Havia pacientes (muitos) que desenvolviam uma relação imaginária com o Serviço. Ou seja, ainda que o tratamento lhes fosse muito benéfico, lentamente usavam o Caps como extensão dos seus corpos. Assim, existir-no-caps era adentrar num território de sentido. Ouvi comentários de técnicos que percebiam (com lucidez) tal situação. No entanto, a prática clínica instituída (não só a farmacológica) fabricava subjetividades crônicas e mais profundamente submetidas ao serviço enquanto espécie de casa, lar, referência para o viver. Alguém falou "meu Caps, minha vida". Isso é relação de transferência institucional, modelo de cuidado que se impôs "naturalmente". Tanto que o procedimento "alta" era encarado com muita dificuldade, fosse pelos pacientes ou pelos técnicos. Tratava-se de uma marca subjetiva que produzia travamentos na relação com o paciente. Se o Caps tinha (ou tem) um movimento clínico para fora dele mesmo, percebi o oposto, um voltar-se sobre si e para si como reprodução adocicada da forma-hospício. Explicar as causas do "desvio" de objetivos requer , para além da clínica, considerar fatores políticos funcionando num regime macrossocial de instituições: a Atenção Básica, o PSF, a Coordenação de Saúde Mental, o Hospital Afrânio Peixoto... entre outras.

A.M.


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