15 de junho de 2011
As visitas domiciliares eram um momento especial. Essa foi solicitada pelo Ministério Público. Estavam o motorista, um psicólogo, uma enfermeira e eu. Num bairro periférico de Vitória da Conquista a procurar o endereço. Era um lugar muito precário, ruas em chão batido. Havia restos de lixo a céu aberto no quintal e na entrada da casa. Pouco antes, avistamos um jovem andando só com aspecto de estar alheio ao em torno.Depois soubemos que era o próprio paciente... Dona Maria (nome fictício), a mãe, nos recebeu do lado de fora da casa com um leve sorriso. Um de nós perguntou:" -como está a senhora, dona Maria?" Ela respondeu :" - como Deus quer.". Explicamos o motivo da visita, pedimos licença para entrar. Numa manhã ensolarada o interior da casa era escuro. Eu andei um pouco na pequena sala, enquanto o psicólogo e a enfermeira conversavam com dona Maria. Eram cerca de 10 da manhã. Olhei em torno, divisei a pequena cozinha e não vi sinal de comida. Do lado direito havia um quarto semi-aberto e parecia que alguém estava ali deitado. Dona Maria explicou que era a sua filha (muito jovem) que sofria de um grave problema neurológico e não podia sair da cama.Ainda obtivemos alguns dados sobre o filho, o que estava perambulando pela rua (objeto da solicitação para uma avaliação psiquiátrica). Ele não aceitaria conversar. Agradecidos, nos retiramos. Na volta ao Caps, a frase de dona Maria "como Deus quer" ainda ressoava na minha mente. E talvez na dos colegas.Não lembro exatamente como ocorreu, mas isso se tornou o centro de um pequeno debate no grupo. "Como Deus quer? Como assim? E Deus quer isso? Que Deus é esse que quer isso? Por que dona Maria pensa assim? Sempre será assim?" e tantas questões, perguntas sem respostas, angústias e um horror contido. De volta ao Caps, imagino que cada um, à sua maneira, ficou mexido com aquele encontro.
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