31 de agosto de 2011
Em tempos idos do hospital psiquiátrico, eu já não gostava de festas para e com os pacientes. São João, Natal, Carnaval, entre outras, me pareciam modos de segregação social disfarçados em sentimentos de piedade. Eram dispositivos que fabricavam (explicitamente) cenas da subjetividade manicomial. No Caps isso continuava e trazia a sensação do "já visto". Pacientes dançando, sorrindo, brincando, não evitavam a exposição da sua doença (ou transtorno) como sendo o rosto das festas. Sim, as festas tinham uma rostidade, uma aparência estanque. Talvez me agradasse muito mais o rosto da não-festa, o rosto permanente do cotidiano do mundo não travestido em objeto da psiquiatria. Contudo, não me interessava o objeto da psiquiatria nem mesmo o sujeito da psiquiatria (os psiquiatras como um bando) e sim o acontecimento psicossocial que escorria para além dos muros invisíveis do Caps. Tais pensamentos errantes compunham a ideia de ser não sendo (cultivo do paradoxo?) um mero psiquiatra passador de receitas. Ora, se a reforma psiquiátrica incutiu em todos nós o gosto de questionar o manicômio, herdamos o hábito de monitorar risos, ainda e principalmente os imotivados. Como nas festas.
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