terça-feira, 1 de setembro de 2020

10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO - 5
17 de agosto de 2010

Antes de trabalhar num Caps, já me interessava operar uma clínica em saúde mental,  bem mais e muito fora da psiquiatria bio-manicomial. Ora, se descolarmos a saúde mental da psiquiatria ( ou a mente do cérebro) obteremos suportes conceituais para existir tal clínica.  Ela é a clínica psicossocial. Na prática seria o Caps em sua expressão mais "perfeita". Nos atendimentos (poucos nessa época) eu seguia dois eixos técnicos: 1-buscar uma etiologia (causa) multifatorial dos transtornos; 2- estabelecer uma (ou até mais que uma) hipótese diagnóstica que servisse como função terapêutica e não como controle do outro.  Isso era  básico no exercício da clínica (o Encontro). E para  ser possível levar esses dois eixos ao trabalho multidisciplinar, (óbvio que eu não estava sozinho)  precisava dos demais técnicos. Dito de outro modo,  me concebia como membro técnico incorporado à equipe. Não o contrário como acabei verificando depois. Trabalhei com pacientes a partir das observações individualizadas no prontuário. A letra fria. O Caps (enquanto técnica de cuidado) a mim então se mostrou amputado do exterior, do socius, da instituições, do mundo. Não faltava atenção, colaboração e empenho dos técnicos, sim, mas  não impedindo que o velho modelo do organismo mental/cerebral doente prevalecesse como princípio e regra do trabalho clínico. Um indício de que algo mais profundo e grave ocorria com o dispositivo Caps II se esboçou na minha mente.

A. M.

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