10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO - 5
17 de agosto de 2010
Antes de trabalhar num Caps, já me interessava operar uma clínica em saúde mental, bem mais e muito fora da psiquiatria bio-manicomial. Ora, se descolarmos a saúde mental da psiquiatria ( ou a mente do cérebro) obteremos suportes conceituais para existir tal clínica. Ela é a clínica psicossocial. Na prática seria o Caps em sua expressão mais "perfeita". Nos atendimentos (poucos nessa época) eu seguia dois eixos técnicos: 1-buscar uma etiologia (causa) multifatorial dos transtornos; 2- estabelecer uma (ou até mais que uma) hipótese diagnóstica que servisse como função terapêutica e não como controle do outro. Isso era básico no exercício da clínica (o Encontro). E para ser possível levar esses dois eixos ao trabalho multidisciplinar, (óbvio que eu não estava sozinho) precisava dos demais técnicos. Dito de outro modo, me concebia como membro técnico incorporado à equipe. Não o contrário como acabei verificando depois. Trabalhei com pacientes a partir das observações individualizadas no prontuário. A letra fria. O Caps (enquanto técnica de cuidado) a mim então se mostrou amputado do exterior, do socius, da instituições, do mundo. Não faltava atenção, colaboração e empenho dos técnicos, sim, mas não impedindo que o velho modelo do organismo mental/cerebral doente prevalecesse como princípio e regra do trabalho clínico. Um indício de que algo mais profundo e grave ocorria com o dispositivo Caps II se esboçou na minha mente.
A. M.
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