No trabalho clínico em saúde mental, a fala do técnico deve evitar o emprego do senso comum e/ou do bom senso. Isso desfigura a relação de ajuda, tornando-a mero simulacro de relações de poder como a do juiz ("eu julgo"), a do policial ("eu prendo), a do professor ("eu ensino"), a do sacerdote (eu salvo"), bem como as da família, resumo e condensação das anteriores, aquilo que a psicanálise (ícone do familiarismo) expôs ad nauseam. O técnico em saúde mental não é mais do que um facilitador dos processos existenciais de expansão da vida e do aumento da potência de agir, como diz Espinosa. Isso posto, a psicoterapia como técnica está ao alcance de qualquer um, desde que ultrapasse a fronteira dos valores instituídos da moral burguesa e institua a ética da alegria no próprio meio (caos) contemporâneo. Tarefa difícil, complexa e inglória, reservada aos que se deixam atravessar por uma espécie de"solidão povoada", método em que a arte é o que move, o que impulsiona, o que vibra, e o que faz viver sem garantias ilusórias. Trata-se, enfim, de encarar o real e mais ainda, de fazer o real.
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