10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO - 12
29 de fevereiro de 2012
A psiquiatria-em-mim tornou-se um elemento importante do processo-caps. À medida em que fui conhecendo outros psiquiatras (para além do caps), colegas de praça, academia e mercado, o encontro virou desencontro, ou dito de outro modo, um mau encontro. Nada pessoal. Até porque nunca conversei mais que 10 minutos com algum colega, muito menos no serviço. Neste, até 2012, foram dois ou três médicos do cérebro. Que captei. As anotações na folha de evolução, os relatos de pacientes, falas em reunião técnica, informações de terceiros, tudo me cheirava absolutamente distante. Um estranhamento rondava minha cabeça como sinapse do mal entendido ou do não sentido. Sequer houve alguma fala, qualquer uma, qualquer atrito, mesmo contingente ou óbvio, que me aproximasse de alguém. Deixei vazar o silêncio dos negativistas autistas. No Caps, a comunicação com eles, os psiquiatras da vez ( o que é isso?) pelo menos nos dois primeiros anos de trabalho, foi a de um brutal distanciamento de linguagens, perspectivas clínicas e institucionais. O que veio depois (pós 2012) não fez mais que acirrar um estado de coisas já dito e tido como normal. Sem ressonâncias policiais, ser um agente duplo foi o que me restou no cotidiano da loucura.
A.M.
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