Menina feia
Entre as outras crianças que brincam
Ela faz lembrar uma rãzinha.
A blusa feia enfiada nos calções,
Os anéis arruivados dos cachos
Desgrenhados, a boca longa, os dentinhos tortos,
Os traços do rosto agudos e feios.
Para dois menininhos da mesma idade dela
Os pais compraram uma bicicleta pra cada.
Hoje os meninos, sem se apressar pro almoço,
Pilotam pelo quintal, esquecidos dela,
Mas ela corre atrás deles, em seu rastro.
A alegria alheia, tanto quanto a sua própria
A exaure, e explode para fora do coração,
E a menina regozija e ri,
Capturada pela felicidade da existência.
Nem sombra de inveja, nem mau desígnio
Ainda não conhece esse ser.
Para ela tudo no mundo é tão incomensuravelmente novo!
É tão vivo tudo que para outros está morto!
E eu não quero pensar, ao observar,
haverá um dia em que ela, soluçando,
Verá com terror que entre suas amigas
Ela é somente uma pobre feiosinha!
Eu quero crer que o coração não é um brinquedo,
Mal se pode parti-lo de repente!
Eu quero crer que essa chama pura
Que arde no fundo dela,
Curará sozinha toda a sua dor
E derreterá a pedra mais pesada!
E mesmo que os traços dela não sejam belos
E ela não tenha com que seduzir a imaginação,
A graça infantil da alma
Já lhe perpassa todos os movimentos.
Mas se isso é assim, então o que é a beleza,
E por que as pessoas a idolatram?
Ela é um jarro, no qual há um vazio,
Ou um fogo, cintilando em um jarro?
Nicolai Zabolótzki
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