10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO -13
16 de março de 2013
No cotidiano do Caps a presença de estagiários de universidades e faculdades era cada vez mais notória.Eles em vinham em bandos, inicialmente acompanhados por professores e/ou supervisores. Só que estes em seguida geralmente sumiam, reaparecendo meses depois para a conclusão da disciplina do semestre. Eu observava tal ciclo meio que com espanto levando comentários não favoráveis à gerência. Era atingido em cheio quando por exemplo um estagiário certa vez me procurou para pedir um paciente "emprestado". Ou em três ou quatro vezes que me pediram (quem?) para conceder uma entrevista cujo objetivo era compor a monografia de conclusão do curso ou o trabalho respectivo da disciplina. Noutra vez a professora me solicitou educadamente para fazer uma roda de conversa com os seus alunos, o que na verdade, era um eufemismo de aula ou palestra. Uma trapaça que recusei. Como psiquiatra, não dispunha de qualquer controle (nem poderia ) destes fluxos de estagiários e representantes da Academia, circulando pelos corredores de um Caps já atolado nos seus próprios problemas, inclusive os do espaço físico. Ora, estava claro que a atividade essencial da Academia é a de caráter predatório, fornecendo ao aparelho universitário a vampirização calculada dos serviços onde ela passa. Sem dúvida o objetivo maior era o da obtenção de títulos de mais valia de prestígio, poder e dinheiro no tráfico do conhecimento imaculado. Isso era repugnante mas no fim das contas infelizmente aceito por todos, eu inclusive. Ressalte-se que a universidade era (ou é?) uma manobra institucional legalmente absorvida (ou até louvada por alguns) em seus efeitos danosos ao serviço. Claro, muito menos para o psiquiatra e demais técnicos e muito mais para o paciente, considerado e tratado como objeto útil à uma ascenção intelectual e acadêmica consolidada.
A.M
Nenhum comentário:
Postar um comentário