10 ANOS DE CAPS - RELATOS DO TEMPO - 6
19 de outubro de 2010
Gostava de atender pacientes graves e gravíssimos. Um contato com o cruel do real. Contudo, no primeiro ano de Caps essas duas categorias pouco surgiram. Havia, sim, pacientes já cronificados e plenamente adaptados às condições de funcionamento do Caps. Compunham o molde psiquiátrico e eram lentificados como vivência no tempo. Os diagnósticos de "psicoses e neuroses graves", dado clínico escrito nos primeiros manuais sobre caps (anos 80 do século passado) não facilitavam a criação de critérios para responder a pergunta: "este é para o caps?". Enfim, escritos, mas não descritos. Talvez porque os dois conceitos estivessem mal elaborados. Afinal, o que seriam as psicoses? O que seriam as neuroses graves? Não existia a psicopatologia a ser inventada junto a clínica psicossocial a que nos referimos. No seu lugar fui "obrigado" a conviver com as categorias espúrias da psiquiatria manicomial adornadas com o desejo coletivo do novo. Ora, isso não ia além do imaginário, ou seja, circulava na altura das boas intenções, tanto a nível interno (técnico) quanto externo (administrativo). Técnicamente e politicamente eram tempos românticos.
A.M.
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