10 ANOS DE CAPS: RELATOS DO TEMPO - 7
4 de abril de 2011
Eu fazia o trabalho clínico do psiquiatra da equipe e não do psiquiatra na equipe. Tal distinção seria fundamental adiante. Fui percebendo um "q" de cronificação não apenas dos pacientes mas de todo o dispositivo Caps. E eu estava nele, pongado nele, vivendo nele, ainda que me alentassem discursos progressistas em nome de uma esquerda cansada e decadente. Nesse ponto, a política e a micropolítica se misturam-em-mim na produção de uma subjetividade individuada no médico. Crise de identidade profissional? Não, a crise era parte do processo, ela era o que movia forças de um coração inquieto. Um eu-profissional vagava entre as ideias libertárias e os pesadelos da burocracia perversa. O que restaria, então, de mim, senão o servidor público estarrecido ante a dor clonazepínica? Um gota-a-gota no cotidiano espetaculoso anunciava a maravilha que era o Caps. Isto chegou ao modo político disfarçado pelas boas intenções do partido no poder. Mas o poder não tem partido. Assim, me vi dentro de uma armadilha-delícia em prol dos "humilhados e ofendidos". Não recuso a co-responsabilidade.
A.M.
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