A Hora se aproxima com hálito forte. De pé, ante as correntes, o rio não volta. Fale para ela, Hora, que os signos batem à porta. Quanto aos meus limites, não são mais. Estou solto. Ouvi conversas à beira do cais. O abismo aprofundou casas de pau à pique. Escutei um coro de metais. Entrementes, putas rasgaram a noite. Avisei aos neurônios: andem em matilhas. Nem ligaram. Por isso, as ordens acabaram saindo do útero da terra. Ah! e novo? Vítimas choram os horrores do capital. O capital é o tal. Abriram a boca, roçaram a língua nos lábios de uma câmera de TV. E desceram mais e mais na busca dos prazeres curvos. Mas tudo mudou. Um óleo branco esparramou-se pela calçada. Bruxas no pedaço. Boa noite, lua, pode entrar. Lhe conto as desventuras dos rebanhos humanos. Me redimi. Já que chegaste, menina, encolha os ombros sobre a fronte-gelo. Me seduza. Você é o rosto e o andar esgueirado das mulheres do pântano. Fragmentos do sexo, um santo remédio. Meu negócio é, pois, escutar quem não me escuta. Por isso escolhi como líder a convicção do ínfimo. O jeito dos sem jeito. Hoje já nem sei dizer quem eu era . Alguém exibiu a cédula de identidade. Fui aceito? A hora se afinou num segundo de brincadeira. Jogou com as estações do corpo. Afinal, minorias chegam sempre alegres. Como não ser decepcionante para a maioria? Tempere a gosma da saliva ácida. Misture os nomes pérfidos. Diga que os ama. Penetre os dogmas da interioridade mais preciosa. Finja que está nas esporas dos cavalos selvagens. Só para assustar os néscios, dirija para a amada tudo que você sempre sonhou. A condição é a de que não exista amada, mas amadas. Vista-se de você mesmo, contanto que seja você o primeiro a se despir. Saia de si. Vá para outros cantos, entoe cantigas de parto prematuro no meio da mata. Jogue a metáfora no lixo da linguagem douta. Isso basta.
Antonio Moura
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