quarta-feira, 28 de setembro de 2011


Sobre  os  corpos
                                                   
                                                       Antonio Moura



                 O  corpo-sem-órgãos   (CsO) é um anticonceito,   limite  intransponível da experiência.  Processo esquizofrênico.  No caso da  entidade  clínica    é   prática de  vida  que  aparentemente fracassou.  Mesmo    assim permanece ativo  enquanto  coleção  de  linhas existenciais sem contorno, fluxos  nômades, gritos. São as máquinas  do desejo.     A  subjetivação é,  pois,   uma   dessubjetivação  incessante. Somos  todos esquizos.  Considere   o  seu próprio  corpo. Ele  é  invenção   de  mundos.     Não    o corpo  do  qual  a medicina,  papai-mamãe  e  a escola   gostam.  É outra  coisa,  uma  política. Aparece  aqui e  ali em situações de  grande  responsabilidade moral – para  desfazer  a  moral.  Se  você   perguntar qual  o meu  corpo , eu  lhe  direi:  sigo os   afetos:  uns  me  encantam, outros  são  insuportáveis. Risco  dos  encontros, puro desejo escorrendo  cruel. Veja  o paciente.  Seu  corpo liga-se ao mundo dos  códigos estáveis. Eles  são  usados  para a  repetição  do Mesmo. A antiprodução  é, assim,    inserida   na produção.  Convite ao normal. Mas,  o que  aconteceria  se  milhões de corpos sem órgãos  fossem movidos ao combustível alegria? O corpo  seria  o  de uma dançarina saltando  na relva?  O  de  um  soldado  numa  trincheira? Ora,  os  corpos  são invisíveis. Sua potência  esgueira-se  por  entre  as  franjas da  racionalidade  proprietária do  eu.   Não  há  corpos opacos.  Somos  fibras   de luz e só  os videntes  enxergam  para além de  toda  moral e de  toda  técnica. O  CsO é  uma política  de guerreiros  esquizos. Eles  não se  deixam ver.  Usam máscaras rentes   à  pele. Você nem sabe que  é um. Mas,  não anuncie a sua  chegada,  não  reclame, não ressinta. Cultive  o segredo. Faça  rizomas. 

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