A QUEM SERVE O CAPS? - IV
O Caps serve ao que vem de fora. O paciente vem de fora, não como um indivíduo encaixotado num organismo doente, mas como o próprio Fora. Encarna em si as instituições que o compõem: família, eu, direito, escola, política, religião, psiquiatria, ciência, entre outras. Elas adentram ao Caps na figura do paciente grave. Se é psicótico ou neurótico, isto é secundário à tais formas sociais expressas (como semiologia psicopatológica) no seu comportamento. Por isso, ele incomoda, assusta e desorganiza a racionalidade instituída. Não é uma questão apenas de preconceito ao louco, mas da desimplicação da equipe com os efeitos dessas instituições sobre ela. Numa análise dos afetos postos em jogo, a equipe tende a se ligar a afetos explícitos, como o das categorias profissionais, das relações interpessoais, dos salários baixos... Não que estes afetos sejam desprezíveis, ao contrário, mas por serem explícitos, encobrem a desimplicação do técnico com o paciente que é igual a negação do efeito subjetivo devastador (subjetivação) das formas sociais referidas. Mas elas insistem...pois são o Real em si mesmo. Em resumo, uma equipe técnica no Caps está às voltas com os fantasmas imaginários que povoam o inconsciente social. Enfrentá-los requer antes de tudo criar sentidos para o trabalho com o paciente, na medida em que a própria equipe só existe e funciona no inconsciente social. É aí onde a psicose e/ou a neurose grave fazem explodir antigos modelos da clínica psicopatológica.
A.M.
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