Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
quinta-feira, 31 de maio de 2012
A MASTURBAÇÃO
Nada como o masturbador para criar fantasias. A psicanálise é exatamente uma masturbação, um narcisismo generalizado, organizado, codificado. A sexualidade não se deixa sublimar, nem fantasiar (...) (...) Não o homem e a mulher como entidades sexuais, tomados em um aparelho binário, mas um devir molecular, nascimento de uma mulher molecular na música, nascimento de uma sonoridade molecular na mulher
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Gilles Deleuze - do livro Diálogos
SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA (excerto)
Os compêndios médicos trazem o modelo propedêutico da clínica geral: inspeção,palpação, percussão e auscultação. Estas ações mapeiam o organismo humano em termos de exame físico e produzem uma verdade.Extraem um ganho semiológico, principalmente se o paciente for beneficiado pela melhora, alívio,cura,etc. A psiquiatria vem na esteira desse processo, e com um elemento a mais: o julgamento do paciente. É nesse enunciado-ato que a violência se oculta e se naturaliza.No entanto, para o humanismo da medicina, esse fato talvez soe como achincalhe a tão elevados objetivos éticos. Não importa. A atitude do psiquiatria frente ao paciente, o face a face da clínica psicopatológica, o enfrentamento tácito, expõem com clareza os objetivos do exame.A atualidade da cultura ocidental, marcada pela Ciência, traz condições teóricas e operacionais necessárias para a psiquiatria afirmar tais objetivos, deletando os sintomas.
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A. M.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
O QUE É O TRÁGICO?
Trágico designa a forma estética da alegria, não uma fórmula médica, nem uma solução moral da dor, do medo ou da piedade. O que é trágico é a alegria. Mas isto quer dizer que a tragédia é imediatamente alegre, que ela só suscita o medo e a piedade do espectador obtuso, ouvinte patológico e moralizante, que conta com ela para assegurar o bom funcionamento das suas sublimações morais ou das suas purgações médicas.
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G. Deleuze - do livro Nietzsche e a filosofia
SAIR DOS TRILHOS
Ao desconfiar que alguém delira, não julgue. Pense primeiro “ o que estará sentindo o suposto delirante?”.Quem delira pode não estar delirando, ou seja, pode estar apenas pensando em voz alta. Afinal, como seres do pensamento, deliramos. Uma barreira colocada entre nós e o dito mundo real impede que o delírio se torne um problema. Sim, torna-se um problema quando a ordem “natural” das coisas é rompida a nível da conduta. Para o bom senso isso é insuportável, ou quase insuportável. Parece claro. Há uma ordem racional do mundo que instituiu e institui valores, normas e códigos. Isso em toda parte. Uma necessidade de ordem e bom comportamento parece fazer as coisas andarem. O binômio ordem/desordem vem daí, alimenta-se de possíveis desvios que o confirmam. A todo custo, a ordem tem que ser mantida, começando pela família. Nesse estado de coisas o delírio é uma linha de vida não classificável.
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Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
DO HUMOR
Pensamos outra coisa: o humor, derivado dos afetos, está em contato com mil fluxos internos e externos que compõem processos de singularização. No caso, por exemplo, de um transtorno “puro” do humor (antiga depressão endógena) os afetos deixam de escorrer por linhas subjetivas. Produzem um corpo-organismo, o qual será objeto de intervenção farmacológica, talvez a única possível num dado momento. Não há mais devir e por isso eles se tornam um ponto (e não uma linha) expresso nas alterações dos neuro-transmissores. Essas alterações não são únicas, mas as que se mostram num organismo biológico travado, portanto, em risco ou negação de vida.
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A.M.
terça-feira, 29 de maio de 2012
ESQUECER, ESQUECER
Melhor insistir sobre o esquecimento. Na representação e oposição, há a memória: passando de uma singularidade à outra, uma e outra são mantidas juntas (por causa da circulação, por dispositivos, por fantasmas ou figuras libidinais dos bloqueios). Nesta memória está implicada uma identidade, o mesmo. No eterno retorno, como desejo de potencial, justamente não há memória. A viagem é uma passagem sem traço, um esquecimento, instantâneos que não são múltiplos senão pelo discurso, jamais por eles mesmos. Eis porque não há representação para este nomadismo de intensidades.
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J.F. Lyotard - Notas sobre o retorno e o kapital
PATOLÓGICO E NÃO PATOLÓGICO
Acompanhar as linhas singulares do paciente é não identificá-lo a uma essência patológica. Desse modo, a patologia compõe um mosaico clínico que a ultrapassa enquanto fato inscrito na cultura. O não-patológico está misturado ao patológico. E mais, o patológico nem sempre pode (ou deve) ser completamente excluído das condições psíquicas do paciente. O delírio é o acontecimento, ou seja, o devir como processo de vida que precede as manifestações clínicas. Mesmo estruturas visíveis como o cérebro, constituem a vertigem do tempo que não volta. O interesse dessa premissa está na possibilidade de incluir o paciente no rol das atividades humanas (sociais) sem reduzi-lo a alguém a quem faltaria razão. Ora, a razão (ou a racionalidade) é construída socialmente...
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A.M.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Arte
Falamos da arte como composição de linhas subjetivas que buscam expressar e criar um mundo. É possível captar essas forças no Encontro com o paciente. A psiquiatria capta outras forças, é bem verdade, as do organismo físico-químico adoecido pelas condições em que vive. Isso significa fabricado por múltiplas determinações que escapam ao controle do eu. Escapam também ao enquadre linear causa-efeito. Contudo, o que o paciente diz sentir é o que importa. A arte, surge, então, como resistência às situações existenciais adversas. Nesse sentido ela está fora da psiquiatria, não havendo encontro possível. A linguagem da arte é inseparável da sensação, pura sensação que constitui a subjetividade como semiótica a-significante. Ou seja, não sendo submetida à consciência (“eu, enquanto indivíduo”), a produção da arte é uma produção de singularidades que retira matéria viva do caos . Na psiquiatria atual, no lugar da produção,o produto é capturado (e imobilizado) por exames de imagem. Sob controle.
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A. M.
A FORMA-HOSPÍCIO REPRODUZIDA
O meio é a subjetividade como modo de produção contextualizada. O Caps tende a reproduzir o modelo biomédico autor de tantos equívocos na história da psiquiatria. Talvez por isso, no momento, praticamente não há avanço. Ao contrário, se as pesquisas sobre o cérebro evoluem, o que há é um retrocesso na percepção da vida afetiva. Ora, falar em equipe multidisciplinar é antes considerar a sua vida afetiva: o desejo como foco. O grupo se movimenta pelo desejo. Ou melhor, o desejo é o próprio movimento, não como espaço a ser percorrido, mas como intensidade. Desse modo, a pergunta : o que move o trabalho do Caps? O que move a sua equipe ?
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A.M.
O problema da consciência em psicopatologia
O conceito de consciência está presente, de modo explícito ou não, na clínica psicopatológica desde os seus primórdios. Pode-se dizer que é impossível realizar o exame do paciente sem pôr a questão: “ele está consciente”? Trata-se do conceito clínico de grau (ou nível) da consciência. Da vigília (a normalidade) ao coma, desenha-se um espectro de graus de consciência (torpor, turvação, obnubilação, etc) em que as estruturas neurocerebrais estão comprometidas. A equação consciência=mente=cérebro é adotada como resposta teórica à clínica dos transtornos mentais de origem orgânica. Quanto mais alguém está consciente, melhor estará funcionando o seu cérebro e por extensão a mente. Contudo, o exame pode ser esmiuçado: “o indivíduo sabe o que faz”? Ou “ele tem noção (=consciência) dos seus atos”? Um sentido moral se insinua, ficando encoberto pelo sistema fechado “cérebro/mente”.
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A.M.
domingo, 27 de maio de 2012
QUE REVOLUÇÃO?
A revolução à maneira de golpe de Estado está morta, viva a revolução pelo modo libertário, molecular, para dizê-lo com as palavras de Deleuze e Guattari. Longe dos futuros radiantes e dos amanhãs que cantam, pacificados, é preciso pensar no devir revolucionário dos indivíduos, única ética pensável(...) (...)
M. Onfray - do livro A política do rebelde - tratado de resistência e insubmissão
FALA, PESSOA...
Pobres das flores nos canteiros dos jardins regulares.
Parecem ter medo da polícia...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
E têm o mesmo sorriso antigo
Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem
Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
Para ver se elas falavam...
Fernando Pessoa
A DESVALORIZAÇÃO DA PSICOPATOLOGIA
(...) (...) Ora, um dado que se constata ao longo dos últimos quinze anos é o desaparecimento gradual da psicopatologia como um saber ligado aos processos subjetivos. No seu lugar um corpo neurológico vem substituindo o “espaço psíquico”, ligando o sintoma a uma causa ( ou várias) fisicamente demonstráveis. Esse viés mecanicista da psiquiatria é antigo e já foi apontado muitas vezes. O que há de novo é a subsunção da mente pelo cérebro como chave metodológica para acessar um objeto passivo (o próprio cérebro), as avaliações por imagem (diagnóstico) e as manipulações por remédios químicos (tratamento). Apesar disso, não há nos textos uma questão contra as neurociências. Elas, por certo, obtiveram avanços importantes na descrição/compreensão do funcionamento cerebral. No entanto, o viés metodológico neurocerebral fez a psiquiatria “denegar” processos coletivos e o mundo psíquico que também constituem a subjetividade. O que se obteve , por exemplo, em relação ao tratamento químico das depressões, não pode ser desvinculado dos diagnósticos errados quanto ao tipo clínico da depressão. E mais: deixa de conceber a depressão em seus aspectos múltiplos e próprios da nossa época. Um tronco fértil da pesquisa clínica e etiológica é assim abandonado...
(...)
Antonio Moura
sábado, 26 de maio de 2012
AFETOS DA LOUCURA
Há vários tipos de crítica à psiquiatria. Por isso, é bom perguntar "o que quer aquele que faz a crítica?" No nosso caso, trair significa, sobretudo 1- uma posição ético-política; 2- uma proposta de trabalho com o paciente;3- uma psicopatologia descolada do modelo biomédico; 4- uma concepção do trabalho multidisciplinar em saúde mental; 5-um outro manejo dos psicofármacos. Daí, a crítica busca ser não-reativa e sim criativa.Ora, sabemos não ser fácil inventar uma psiquiatria que trabalhe os afetos da loucura. Do paciente e da nossa...
A. M.
O QUE É ANARQUISMO?
(...) (...) por Anarquismo se entende o movimento que atribui ao homem como indivíduo e à coletividade, o direito de usufruir toda a liberdade, sem limitação de normas, de espaço e de tempo, fora dos limites existenciais do próprio indivíduo: liberdade de agir sem ser oprimido por qualquer tipo de autoridade, administrando unicamente os obstáculos da natureza, da "opinião", do "senso comum" e da vontade da comunidade geral - aos quais o indivíduo se adapta sem constrangimento, por um livre de vontade. Tal definição genérica, avaliada de diversas maneiras por pensadores e movimentos rotulados de anárquicos,pode ser sintetizada através das palavras retomadas no século XX, por volta dos anos 20, pelo anárquico Sebastien Faure na Encyclopédie anarchiste: "A doutrina anárquica resume-se numa única palavra: liberdade"
(...)
N. Bobbio do livro Dicionário de política
TRANSTORNO DO PÂNICO?
Pânico, para os gregos, não significa um estado psicológico, mas sim um momento mítico. O Deus Pan, senhor do pânico, é aquele através do qual a ordem social pode desmoronar, uma coletividade tranquila pode se tornar uma horda bárbara e desumana. De uma só vez, tudo se desequilibra, como se tudo aquilo que estabelecesse uma ligação entre os humanos se revelasse, repentinamente, suscetível de fazer emergir um coletivo completamente diferente, de engendrar aquilo que a ordem social parecia excluir, por natureza.
(...)
Isabelle Stengers - do livro Lembra-te De Que Sou Medéia
FRAGMENTO SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA
De início, podemos dizer que o paciente não é uma pessoa, nem um indivíduo .Desse modo, não deve ser julgado. Ele é formado por linhas, fluxos, energéticas, movimentos, dobras, moléculas, átomos, vibrações, partículas infinitesimais que constituem processos de singularização existencial. Não se trata apenas de um eu ou de um cérebro. Ainda que a psiquiatria científica o coloque desse modo, ele é bem mais, um sistema de multiplicidades .Este conceito põe o real ao alcance da clínica, ou melhor, o real como sendo a própria clínica. Isso remete ao primado das relações e das práticas, em detrimento do sujeito ou do objeto vistos como entidades fixas. O encontro com o paciente é o encontro com relações e práticas que compõem uma vida. Esta é irredutível às linhas de visibilidade do organismo físico-químico.Não se restringe ao corpo visível. (Nenhum espiritualismo em tal observação).Uma vida enquanto multiplicidade funciona em devires.É o movimento o que conta, embora não seja percebido.
(...)
Antonio Moura
sexta-feira, 25 de maio de 2012
UM PROCESSO
O corpo-sem-órgãos (CsO) é um anticonceito, limite intransponível da experiência. Processo esquizofrênico. No caso da entidade clínica é prática de vida que aparentemente fracassou. Mesmo assim permanece ativo enquanto coleção de linhas existenciais sem contorno, fluxos nômades, gritos. São as máquinas do desejo. A subjetivação é, pois, uma dessubjetivação incessante. Somos todos esquizos. Considere o seu próprio corpo. Ele é invenção de mundos. Não o corpo do qual a medicina, papai-mamãe e a escola gostam. É outra coisa, uma política. Aparece aqui e ali em situações de grande responsabilidade moral – para desfazer a moral. Se você perguntar qual o meu corpo , eu lhe direi: sigo os afetos: uns me encantam, outros são insuportáveis. Risco dos encontros, puro desejo escorrendo cruel. Veja o paciente. Seu corpo liga-se ao mundo dos códigos estáveis. Eles são usados para a repetição do Mesmo. A antiprodução é, assim, inserida na produção. Convite ao normal. Mas, o que aconteceria se milhões de corpos sem órgãos fossem movidos ao combustível alegria? O corpo seria o de uma dançarina saltando na relva? O de um soldado numa trincheira? Ora, os corpos são invisíveis. Sua potência esgueira-se por entre as franjas da racionalidade proprietária do eu. Não há corpos opacos. Somos fibras de luz e só os videntes enxergam para além de toda moral e de toda técnica. O CsO é uma política de guerreiros esquizos. Eles não se deixam ver. Usam máscaras rentes à pele. Você nem sabe que é um. Mas, não anuncie a sua chegada, não reclame, não ressinta. Cultive o segredo. Faça rizomas.
(...)
Antonio Moura
PRODUZIR DESEJO
O desejo e o seu objeto são a mesma coisa: a máquina, enquanto máquina de máquina. O desejo é máquina, o objeto é ainda máquina, tanto que o produto é extraído do produzir, que vai dar um resto ao sujeito nômade e vagabundo. O ser objetivo do desejo é o Real em si mesmo.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari - do livro O anti-édipo
CONSCIÊNCIA É UM CONCEITO ESTÉRIL
Usamos o conceito de vivência articulado aos problemas da clínica psicopatológica. Esta se compõe de linhas do desejo (afetos) e linhas do pensamento (crenças). Assim, o paciente, antes de tudo, sente e acredita. Sua vivência observada na clínica não é A vivência, mas uma vivência ou vivências que se expressam em signos nem sempre significantes. Tal perspectiva faz do exame psíquico um Encontro, podendo este ser bom ou mau a depender dos afetos e das crenças postos em jogo. Isso requer do técnico entrar em contato muitas vezes com um mundo que compreende algo incompreensível à consciência. Afeto e pensamento, desejos e crenças são territórios existenciais que fazem viver. As vivências são singularidades. O Incompreensível (“por que ele quer morrer”? ou “ele acredita nisso?”, etc) não remete a uma doença ou transtorno (o que dá no mesmo), mas antes a processos de vida que se expandem em linhas arriscadas e concretas. Considerar desse modo as vivências implica em situar o paciente para além do eu e substitui-lo pela vivência não médica, não psicológica, não humanizada
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
quinta-feira, 24 de maio de 2012
PARA COMEÇAR A PENSAR
Fui compreendido? - O que me separa, o que me coloca à parte de todo o resto da humanidade é haver descoberto a moral cristã. Por isso tive a necessidade de fazer uso de uma palavra que mantivesse o sentido de um desafio a cada homem (...) (...) A cegueira ante o cristianismo é o crime par excellence - o crime contra a vida...
F. Nietzsche
TRAIR É TRAIR
Enfim, as crenças, tão frágeis, tão poderosas, norteiam e fazem consistir o real. Entre elas o delírio insinua-se como tecido de sustentação para um eu franzino. No entanto, é preciso viver. A psiquiatria não quer isso. Ela só quer sobreviver às custas da reprodução de uma dependência aos seus remédios. São tratores da mente. Desconsideram a finura existencial dos espíritos livres.
(...)
Antonio Moura
quarta-feira, 23 de maio de 2012
À PROCURA DA DIFERENÇA
Chegar à diferença, lá onde onde talvez poucos tenham conseguido, é traçar um método. Qual é mesmo o método? O método é o de detectar as forças que, por serem invisíveis, não se apresentam de imediato. Dir-se-ia que nunca se apresentam, mas que produzem efeitos, talvez a nossa própria angústia ao não reconhecê-las.
(...)
Antonio Moura
terça-feira, 22 de maio de 2012
O QUE É SUBJETIVIDADE?
Numa acepção
inspirada em Gilles
Deleuze
e Félix Guattari , subjetividade refere-se às
formas de sentir, pensar,
perceber e agir que se expressam na
relação do indivíduo com o mundo.
A subjetividade vem de fora. Ela é
social e mais precisamente
coletiva [1] . O indivíduo é uma
espécie de terminal da
produção coletiva
da subjetividade. Claro
que o corpo é a referência
maior, pois não
existiria indivíduo sem um corpo. Precisamos ver algo. Mas esse corpo, com a sua
organização anátomo-fisiológica, está encravado numa rede
coletiva de significados não necessariamente visíveis.
Ainda assim, o coletivo
não é algo abstrato, distante
de nossas vidas
cotidianas. Ao contrário, ele se
operacionaliza no e
através o funcionamento das instituições,
formando linhas de
vida no que
se chama “subjetivo”. Dizer ”subjetivo=coletivo”
é uma
equação que serve
para se pensar a mente e
os transtornos mentais.
A subjetividade nos governa a partir de determinações que escapam à consciência, ao eu e
à razão. Estas categorias
são produtos sociais que
servem para manter a estabilidade do cotidiano da
civilização onde vivemos. Funcionam
“naturalmente”.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
[1]
Uma concepção coletiva
da subjetividade se faz necessária para retirar o “monopólio” da
psiquiatria sobre o chamado
portador de transtorno mental. Assim, a
invenção de práticas clínicas torna-se possível fora do modelo bio-médico.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
APÓS O HORÁRIO DE VISITAS...
O
primeiro diagnóstico não se esquece – 3º ano de medicina. Buscava um hospital psiquiátrico para
estagiar. Tinha muito interesse em psiquiatria e uma
experiência como essa iria definir um projeto profissional e de vida. Por indicação de uma tia,
fui procurar o diretor
do Hospital Santa Mônica. Cheguei lá numa tarde de 4ª feira, sem saber
que era dia de
visita dos familiares. Postei-me num banco
no pátio onde os
pacientes e seus familiares conversavam. Havia muita
gente. O diretor ainda não
chegara e eu então aproveitava a ocasião para observar os pacientes. Me detive num casal que
discutia muito, beirando a agressão física. Pensei: ela está mal, muito mal. E ele está aguentando essa barra. Discutiam, discutiam, ele mais para
calado e ela na ofensiva. De repente , acabou o horário da visita. Para minha
surpresa, foi ele quem entrou
e ela foi embora. Moral: meu primeiro diagnóstico estava errado.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
FORMA-SAÚDE MENTAL
A forma-Saúde e por extensão, a Saúde Mental, secretam produtos que compõem a subjetividade e se materializam na clínica. Ou melhor, na psiquiatria clínica. Há até pacientes que chegam com um diagnóstico firmado por eles próprios. Desse modo, antes da vivência da queixa, o diagnóstico torna-se uma identidade. Produção de consumo. Ao mesmo tempo, a miséria social (não só econômica) se alimenta de reflexões sobre o dito comportamento patológico.Pesquise, por exemplo, distúrbios do humor.Ou sobre o pânico diante da violência urbana. Qualquer coisa.A forma-saúde mental é invisível, mas o técnico exibe a sua marca no mercado dos especialismos. Trata-se do pensamento e das suas competências. Com que produtos enfeitar as prateleiras? O pensamento da saúde mental vive do mundo. Ensina um pensar reto. Depois tudo recomeça. A Forma se multiplica em rotinas, laudos, prescrições, mapas, imagens. Não se sabe ao certo onde ela está. Mas, que funciona como no rosto do paciente e nos maneirismos que o guiam. Confira.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
domingo, 20 de maio de 2012
O RESSENTIMENTO E SUAS METÁSTASES
A impotência a admirar, a respeitar, a amar. A memória dos traços é raivosa por si mesma. A ira ou a vingança se escondem. Mesmo nas lembranças mais enternecedoras e mais amorosas, vê-se os ruminantes da memória disfarçarem essa ira por uma operação sutil, que consiste em reprovar a si mesmos tudo que, de fato, eles reprovam no ser cuja lembrança fingem adorar. Por essa mesma razão devemos desconfiar daqueles que se acusam do que é bom ou belo, pretendendo não compreender não serem dignos: sua modéstia dá medo. Que ódio do belo se oculta em suas declarações de inferioridade (...) (...) O mais surpreendente no homem do ressentimento não é sua maldade e sim sua repugnante malevolência, sua capacidade depreciativa. Nada lhe resiste. Ele não respeita seus amigos e nem mesmo seus inimigos. Nem mesmo a infelicidade ou a causa da infelicidade.
(...)
G. Deleuze - do livro Nietzsche e a filosofia
Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o.
Sou místico, mas só com o corpo.
A minha alma é simples e não pensa.
O meu misticismo é não querer saber,
É viver e não pensar nisso.
Não sei o que é a Natureza: canto-a.
Vivo no cimo de um outeiro
Numa casa caiada e sozinha,
E essa é a minha definição.
Fernando Pessoa
DELÍRIO COMO PRODUÇÃO
O que se costuma chamar de “pensamento” são atividades cognitivas marcadas pelo uso representativo do conceito. A representação ( identidade, consciência, eu, etc) é pura Conserva. A psiquiatria funciona segundo eixos representativos evidentes. Tomemos como exemplo o de “especialidade médica”. Ele neutraliza investidas críticas. Em tempos de especialismos, o suposto saber representa. O sonho da representação é estancar os devires. Delirar é um processo cujo combustível é o desejo-produção. Ele explode os esquemas físico-químicos (que remédio prescrever?), familiaristas (quem é o culpado?), dilemas da consciência (ser ou não ser?) ou as vicissitudes do eu( quem sou?). Assim, o pensamento como cognição é muito pobre para se fazer chegar à subjetividade dita patológica. No entanto, a psiquiatria atual se serve dele numa Axiomática conectada ao modo de produção capitalista. É uma aliança embutida na fraseologia do especialismo. Desaparecem as possibilidades de pensar diferente porque o pensamento está dado como cognição redundante do real. A psiquiatria não mais se pergunta o que é o real, de que real se trata. Gigantesco narcisismo, ela é o próprio real.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
SOBRE A VIOLÊNCIA
O mais sanguinário dos assassinos não pode ignorar a maldição que pesa sobre ele, maldição que é exatamente a causa de sua glória. Múltiplas transgressões não podem acabar com a proibição, de tal modo que a proibição surge como se fosse um meio de fazer abater uma gloriosa maldição sobre aquilo que rejeita. Há na proposição precedente uma verdade fundamental: a proibição que fundamenta o terror não nos exige apenas que o observemos. A contrapartida nunca falta. Derrubar uma barreira é em si algo de atraente: a ação proibida assume um sentido que não tinha antes que o terror que nos afastava dela e não a rodeasse de um halo de glória.
(...)
George Bataille - do livro O Erotismo - o proibido e a transgressão
sábado, 19 de maio de 2012
CONCEITO DE ENCONTRO
Todo encontro é marcado por contingências. O coletivo “antecede” o socius na produção de subjetividades. Tudo se mistura. Se existe algo que escapa aos códigos estáveis da razão, é o modelo do delírio (um anti-modelo na verdade) que nos guia e impulsiona. Assim, temos: o coletivo = o delírio ( código psiquiátrico = a psicose) numa série abstrata tornada concreta na clínica ou em qualquer situação onde uma zona (existencial) de fronteira se mostre como ultrapassagem. Essa é a questão dos campos vivenciais passíveis de contato. Eles são hetrogêneos por sua própria natureza. O contato imediato é com a aventura do Acaso,do Indeterminado e do Desconhecido. Desse modo, o encontro de um terapeuta com o seu paciente pode começar no “interior” de si mesmo, em meio a múltiplos “eus”. Subjetivo e objetivo se tocam e se trocam... Entramos e estaremos a entrar numa terra de ninguém, inumana, cósmica, via sem retorno, mundo de Lovecraft. Para fazer uma clínica da diferença, é preciso a não-clínica que com ela produza territórios subjetivos concretos. Do contrário, só com a equação clínica=patológico, o tratamento verá o paciente como coisa, ainda que uma coisa valiosa. O encontro busca o lado ativo do infinito, o processo, enfim, das relações sociais e coletivas.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
DEVIR-PENSAMENTO
Trabalhar com pacientes num Caps, por exemplo, implica em sair dos moldes da Conserva do hospício ou dos consultórios clínicos. Explorar as multiplicidades, mesmo e principalmente no paciente identificado à forma-doente mental. Há outras linhas não percebidas, talvez invisíveis. Pacientes registrados,cadastrados, codificados, rotulados sob o efeito de formas sociais (instituições) como a família, a clínica,a escola, o trabalho, o direito, o estado, a polícia, o casamento, entre outras, estão enfiados em buracos negros onde o devir-pensamento foi relegado a uma atividade cognitiva mínima, rasteira, como registram os manuais psiquiátricos. Curso, forma, conteúdo, raciocínio, juízo, são categorias semiológicas usadas num exercício de mortificação do devir-pensamento. Elas compõem o mundo da representação. Tornar o pensamento visível e frear a sua velocidade infinita, isso sempre foi assunto dos psiquiatras e adquire na psiquiatria atual o requinte das tecnologias de ponta. Subjacente à técnica , existe a crença de que o paciente não pensa, ou se pensa, é para responder que dia é hoje, onde estamos, que veio fazer aqui, etc. Insistimos no dado de que o pensamento não é só o que é falado, mas o que é experimentado via sensações, intensidades, afetos, o que muitas vezes não pode ser dito, não chega a ser dito, não consegue ser dito.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
CIÊNCIA É POLÍTICA
Se os babuínos "fazem política" no sentido de que não param de constituir suas sociedades, o que se passa, podemos perguntar, com as formigas ou os ratos? "Onde deveríamos localizar com certeza os primeiros passos do comportamento político? Deveríamos excluir os insetos sociais sob o pretexto de que as negociações maiores têm lugar antes da aparição dos fenótipos?"
(...)
Isabelle Stengers - do livro A invenção das ciências modernas
VIAGENS DE MIGUEL
Miguel tem 1 ano, 2 meses e 9 dias. Desde que chegou por aqui, o cenário mudou. Hoje, a nossa casa faz parte do universo e não o contrário. Um tempo escorre sem consciência das coisas formalizadas. Miguel exala o sentido do sem-sentido da existência. Seus olhinhos doces espalham alegria em toda a parte onde germina o desejo de viver por viver. Mas não o idolatro. Ele é quem me faz ator/personagem de uma experiência com o cosmos. Continua pegando meus livros na parte baixa da estante. Devora-os em alguns segundos. Passado um tempo, fica dizendo que não gostou disso ou daquilo. Tento argumentar e Miguel é implacável na crítica. Aponta para autores desconhecidos. Lhe pergunto quem são e, afinal, revela que não são, não há ninguém a recitar ou indicar,até porque tudo não passa de um jogo. Metafísico. Então, o som do liquidificador o faz dançar. Avisa que a Terra é um batuque só, ritmo das estrelas cadentes. Me convence.
A. M.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
DIAGNÓSTICO
Perante a CID-10 e
o DSM-IV, não é possível
diagnosticar. O diagnóstico não existe. Comecei do zero. Esqueci dos
códigos. Escutei vozes
dizendo: “ele pensa que é o apocalipse”. Ninguém por perto para
testemunhar. Abri as janelas.
Manhã tão bonita manhã. No entanto, a doutora avisou que vai
chegar mais tarde. Hoje
é dia de visitas inesperadas.
Aos que vierem,
usem a vida como estimulante. No entanto, figuras empoladas pronunciam discursos
doutos. Nada da
expressão do desejo. Nada mesmo. Que fazer? O círculo é estreito, a rede é fina, o controle é (quase) completo. Resta o
pensamento: caminhar veloz, conectar aliados insuspeitos, brincar com o peso do diagnóstico. Poe. A loucura não tem
diagnóstico. Os loucos circulam soltos,
mesmo prisioneiros. A sociedade industrial
imprime no corpo dos seus súditos a marca da
psiquiatria biológica. Por isso, hoje,
escondo o segredo das origens.
Nada de genética. A universidade não
entende. O povo não entende. O diagnóstico enterra suas esporas
sobre
corpos previamente dominados.
Somos todos inúteis úteis.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
AUTO-ENTREVISTA – 18/05/2012
O seu livro não é científico.
De fato, não houve pretensão de sê-lo.
Se não é científico, onde está a
verdade?
A
Verdade da Ciência não é a Única...
Por que ataca a psiquiatria?
Porque ela, digamos assim, pôs a cara desde há pelo
menos 300 anos. Questão estratégica. Além do mais, sou psiquiatra.
Não entendi.
Por
ser psiquiatra, falo de um certo lugar, ou melhor, do "lugar certo" para
falar.
Continuo sem entender.
É simples: pense numa espécie de
autocrítica sem culpa nem ressentimento; pense como Dostoievski: memórias da
casa dos mortos.
O que lhe moveu ao escrever?
Muitas coisas. Talvez uma das maiores
foi o desejo de afetar técnicos não psiquiatras em prol de linhas de pesquisa fora
do enquadre psiquiátrico.
Como é o seu diálogo com os psiquiatras?
Não existe.
Por que?
Porque a instituição psiquiatria é
poderosa e capturou quase todos.
Mas, você é psiquiatra.
Sim, psiquiatra e... muitas outras
coisas... multiplicidades...
Mais uma vez não entendi.
Não é para entender mesmo.
Obrigado.
Não há de que.
A. M.
LIMITES DA CIÊNCIA
Com a obra de arte, estamos no coração de minha aposta. Porque, se o pêndulo era o símbolo do universo determinista, eu diria que a obra de arte é o símbolo do universo que vemos hoje. Se você tomar uma fuga de Bach, ela obedece a regras, mas há também passagens inesperadas: são "bifurcações". É essa mistura do determinismo e de imprevisibilidade que constitui sua natureza, e seu encanto.
(...)
I. Prigogine - do livro Do ser ao devir
EXCERTO DE AUTO-ENTREVISTA
P-O que é a loucura para você?
R-De forma resumida, posso dizer que a loucura é uma experiência lancinante ( podendo ser ou não destrutiva) que atinge em cheio as capacidades do eu. Bleuler já dizia isso há 100 anos. Essa é talvez a sua essência mais “profunda”. É preciso saber a que isso leva, aonde isso vai, como isso se expressa em termos da vida do paciente. O que a psiquiatria chama de psicose ou esquizofrenia, por exemplo, está muito longe de tocar o universo da loucura. Pior, a psiquiatria produz algo que chama de “doença” e até convence o paciente. Que se passa? Um paciente que não se sente doente? Ora, para o mais simplório dos pesquisadores da mente, há algo profundamente equivocado nas premissas da psiquiatria.
A.M.
QUAL LUTA?
A Clínica é processo. Uma Luta que se institui não é mais Processo, e sim uma Organização, como seus conceitos, dispositivos e relações de poder cristalizados. Mesmo que o objeto e os objetivos da luta sejam nobres e altamente louváveis, isso não a livra de uma esclerose de suas práticas e, em consequência, da manutenção de funcionários da verdade. Assim, uma luta anti-manicomial processual dá-se como despsiquiatrização das idéias, já que a psiquiatria é uma instituição antes de ser uma especialidade médica. Se é uma instituição, atua em toda parte, inclusive "dentro" de nós. O combate é sem tréguas.
Antonio Moura
O QUE É TRAIR?
Escutar
um delírio: som musical que pode
ser terrível, ou não.
Música embriaga até corações
enrijecidos. Não busque fórmulas,
protocolos, cifras. Saia de si. Pense
contra si. A forma-psiquiatria não tem dono. Ela é dona
de nós
cegos no momento de desembrulhar um caso
difícil. Tratar além do feijão
com arroz, tão fácil, ainda mais
se o feijão com arroz for
fabricado em série.
Instituir a contra-instituição sem
binarismos não é fácil, sabemos. Chegar ao não-lugar da traição incessante. A coisa toda vem do século
XIX. É uma
fraude cuidadosamente preparada
em pequenos frascos. Todos acreditam. Um dia, ele entra
no consultório e senta-se
na cadeira do paciente. Não se trata
de uma “inversão de papéis” ao
jeito do psicodrama. Isso
seria impossível e por demais
humanístico. Trata-se da desordem infiltrada no
tecido da ordem
asséptica. O psiquiatra é o paciente
que resiste ao funcionamento linear
da entrevista. Pergunta se há consciência. Não há. Descobre
que o cérebro é uma instituição
instituída desde a forma de falar sozinho. Ensaia solilóquios fugidios. A essa altura, se
rompem identidades. Escutar o delírio é olhar as vozes e ouvir o tempo que não
passa... e já passou. Trair é inventar.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
quinta-feira, 17 de maio de 2012
SABERES ÓRFÂOS
A psicopatologia, descolada da psiquiatria, passa a ter vida própria. Uma psicopatologia órfã. Dizê-la e fazê-la requer sobretudo criar condições para o pensamento. Não fazer refletir, mas fazer pensar a saúde mental ao mesmo tempo com e sem as categorias psiquiátricas. Deixar-se levar num paradoxo enunciativo vindo do mundo das psicoses. A clínica da diferença começa com as psicoses e, daí, com a quebra das significações dominantes. O que fazer dos enunciados psiquiátricos encharcados da moral e que, ao mesmo tempo, prestam serviços ao paciente em situações-limite? diria o bom senso das instituições. Ora, já que a psicopatologia tornou-se órfã, ela se constitui como um saber menor, uma minoridade. Ou seja, um saber sem modelo identitário, não regido pelos significantes psiquiátricos.
Antonio Moura - do livro Linhas da diferença em psicopatologia
ÉTICA DO ENCONTRO
O Encontro é essencial para a construção da clínica, mas dela se separa como superfície a-significante num campo livre para experimentações. Constitui-se como um sistema aberto Dessa perspectiva, ir ao paciente, chegar ao paciente não é chegar à pessoa do paciente, mas a tudo que envolve a pessoa, dissolvendo-a em partículas mínimas, até mesmo invisíveis. A concepção transferencial da psicanálise, bem como a da consciênciaintencional da fenomenologia (adotada por várias linhas psicoterápicas), não dão conta do encontro como um “para além”.Mesmo que teóricamente falem de um bom encontro, essas concepções sustentam outra coisa, atadas que estão à dimensão egóica, mental, personalística do paciente. Isso produz um território afetivo que justifica e referenda uma Forma. Cria-se um circuito de realimentação incessante para que o terapeuta cada vez mais acredite no objeto e nos objetivos do seu trabalho. Isto sem falar na demanda do Mercado: mais e mais psicoterapeutas para tamponar a angústia dos tempos que correm. Maus encontros que devem se tornar bons encontros, desde que obedeçam às regras do contrato “ fluxo de sintomas—fluxo de palavras---fluxo de dinheiro e prestígio”. Parece impossível deixar de situar a possibilidade do encontro no âmbito das relações capitalistas de produção, não só da vida material, mas da vida subjetiva.O mundo em que vivemos é o mundo do capital em todas as modalidades de fetichização da mercadoria. O eu é uma mercadoria muito útil para aquisição de novas mercadorias num circuito automatizado de trocas: o homem médio consumidor de ordens implícitas.Falar “para além” da clínica, é, pois, falar daquilo que escapa aos axiomas do funcionamento capitalístico.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
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