UM PROCESSO
O corpo-sem-órgãos (CsO) é um anticonceito, limite intransponível da experiência. Processo esquizofrênico. No caso da entidade clínica é prática de vida que aparentemente fracassou. Mesmo assim permanece ativo enquanto coleção de linhas existenciais sem contorno, fluxos nômades, gritos. São as máquinas do desejo. A subjetivação é, pois, uma dessubjetivação incessante. Somos todos esquizos. Considere o seu próprio corpo. Ele é invenção de mundos. Não o corpo do qual a medicina, papai-mamãe e a escola gostam. É outra coisa, uma política. Aparece aqui e ali em situações de grande responsabilidade moral – para desfazer a moral. Se você perguntar qual o meu corpo , eu lhe direi: sigo os afetos: uns me encantam, outros são insuportáveis. Risco dos encontros, puro desejo escorrendo cruel. Veja o paciente. Seu corpo liga-se ao mundo dos códigos estáveis. Eles são usados para a repetição do Mesmo. A antiprodução é, assim, inserida na produção. Convite ao normal. Mas, o que aconteceria se milhões de corpos sem órgãos fossem movidos ao combustível alegria? O corpo seria o de uma dançarina saltando na relva? O de um soldado numa trincheira? Ora, os corpos são invisíveis. Sua potência esgueira-se por entre as franjas da racionalidade proprietária do eu. Não há corpos opacos. Somos fibras de luz e só os videntes enxergam para além de toda moral e de toda técnica. O CsO é uma política de guerreiros esquizos. Eles não se deixam ver. Usam máscaras rentes à pele. Você nem sabe que é um. Mas, não anuncie a sua chegada, não reclame, não ressinta. Cultive o segredo. Faça rizomas.
(...)
Antonio Moura
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