sexta-feira, 25 de maio de 2012

UM  PROCESSO

                                                    
O  corpo-sem-órgãos  (CsO) é um anticonceito,  limite  intransponível da experiência.  Processo esquizofrênico. No caso da  entidade  clínica  é  prática de  vida  que  aparentemente fracassou.  Mesmo assim permanece ativo  enquanto  coleção  de  linhas existenciais sem contorno, fluxos  nômades, gritos. São as máquinas  do desejo. A  subjetivação é,  pois,  uma  dessubjetivação  incessante. Somos  todos esquizos.  Considere   o  seu próprio  corpo. Ele  é  invenção   de  mundos.  Não   o corpo  do  qual  a medicina,  papai-mamãe  e  a escola   gostam.  É outra  coisa,  uma  política. Aparece aqui e  ali em situações de  grande  responsabilidade moral – para  desfazer  a  moral.  Se  você   perguntar qual  o meu  corpo , eu  lhe  direi:  sigo os   afetos:  uns  me  encantam, outros são  insuportáveis. Risco  dos  encontros, puro desejo escorrendo  cruel. Veja  o paciente.  Seu  corpo liga-se ao mundo dos  códigos estáveis. Eles  são  usados  para a  repetição do Mesmo. A antiprodução  é, assim,  inserida   na produção. Convite ao normal. Mas,  o que  aconteceria  se  milhões de corpos sem órgãos  fossem movidos ao combustível alegria? O corpo  seria  o  de uma dançarina saltando  na relva?  O  de  um  soldado  numa  trincheira? Ora,  os  corpos  são invisíveis. Sua potência  esgueira-se  por  entre  as  franjas da  racionalidade  proprietária do  eu.   Não  há  corpos opacos.  Somos  fibras   de luz e só  os videntes  enxergam  para além de  toda  moral e de  toda  técnica. O  CsO é  uma política  de guerreiros  esquizos. Eles  não se  deixam ver.  Usam máscaras rentes   à  pele. Você nem sabe que  é um. Mas,  não anuncie a sua  chegada,  não  reclame, não ressinta. Cultive  o segredo. Faça  rizomas. 
(...)
Antonio Moura

Nenhum comentário:

Postar um comentário