Auto-entrevista nº 2 sobre a clínica da diferença – 09/07/2010 (excerto)
P- Mas e a produção neuro-científica? Há muitos avanços...
R- A produção neuro-científica não é a produção da psiquiatria. Esta utiliza produtos conceituais importantes para embasar a prática. Ok. Mas o problema começa quando a prática se reduz a passar remédio. E mais: quando o paciente é pouco escutado. São dois problemas interligados: o passar remédio e a escuta.
P-O sr. poderia desenvolver um pouco mais esses temas?
R- Sim, claro. Os pressupostos teóricos para o “passar remédio” desvalorizam a escuta do paciente em prol da observação e cadastramento do sintoma. Daí, a busca pela sua extinção (do sintoma) é a própria prescrição farmacológica. É um dado propedêutico lastreado ao longo da história da psiquiatria. Primeiro, a “ordem” é controlar a conduta do paciente. Torná-la socialmente aceita. Isso se produziu como código da psiquiatria clínica. Compõe o inconsciente histórico-institucional. Podemos resumir dizendo que se é “inconsciente” não pode ser percebido pelos atores, os psiquiatras. Não há culpa.
P- Parece uma perspectiva político-institucional. O sr. dialoga com os psiquiatras?
R-Muito difícil, quase sem chance. Os psiquiatras falam do lugar de especialistas médicos. São sobretudo técnicos.
A. M.
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