quinta-feira, 3 de maio de 2012


  Auto-entrevista  nº  2 sobre a  clínica  da diferença – 09/07/2010 (excerto)


P-  Mas   e  a produção neuro-científica?  Há muitos avanços...
R-  A produção neuro-científica não é  a  produção da psiquiatria. Esta utiliza produtos  conceituais importantes para embasar  a     prática. Ok.  Mas   o  problema  começa quando a prática se  reduz a passar  remédio. E mais: quando o paciente  é pouco escutado. São  dois problemas interligados: o passar  remédio e a  escuta.

P-O  sr. poderia desenvolver  um pouco mais  esses  temas?
R- Sim, claro.  Os pressupostos teóricos para o “passar remédio”  desvalorizam a escuta do paciente em prol da observação e cadastramento  do sintoma. Daí, a busca  pela sua extinção (do sintoma) é a própria prescrição farmacológica. É um dado propedêutico  lastreado ao longo da história da psiquiatria. Primeiro, a  “ordem” é controlar  a conduta  do paciente. Torná-la socialmente aceita.  Isso se produziu  como código da psiquiatria clínica. Compõe  o inconsciente histórico-institucional. Podemos resumir dizendo que se   é “inconsciente” não pode ser percebido pelos atores, os psiquiatras. Não há culpa.

P- Parece uma perspectiva político-institucional. O  sr. dialoga  com os  psiquiatras?
R-Muito difícil, quase  sem chance. Os psiquiatras   falam do lugar  de especialistas médicos. São  sobretudo técnicos.

A. M.

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