Sem
tempo
A máquina psi avança,
devora e submete os que
passam e os que
não. Logro democrático. Há
para todos. Até
as múmias se excitam. La máquina
produz o Vazio preenchido pelo desejo de ser. Ser alguém, quem não quis, quem não quer? Psicanalistas
recitam o verbo da carne extinta.
Exumam cadáveres gordos. Ora,
não mais se trata de um regime
paranóico de produção de subjetividades em série.Nem da
morte. Outro estágio de dominação
sorrateiramente se insinua no coração
das mentes, sejam cultas como as da academia, sejam as
dos estratos sociais “desfavorecidos”.
La máquina não tem
rosto. São todos os rostos amalgamados em séries perpétuas no melhor dos
mundos. Amai a família e serás
salvo. É o que lhes resta. Mas um bilhão de famintos do planeta Terra no olho da cobra assassina, assombra
os mais apáticos, os mais cínicos, até a Memória encardida.
Por que psi? Demasiado cedo, a verdade dos afetos
jaz em íntimas profundezas . A natureza
passa a ser uma Coisa-mãe separada em definitivo de
nós. Uma indústria aqui, acolá, todo
o tempo, compõe as conexões com o mundo. Naturalizar o artifício para que
a brutalidade seja
aceita como uma carícia. O tempo
corre e escorre sobre corpos mal
dormidos nas estações. Então,
psiquiatras entram em cena. Neurologizados e corporativos, buscam o
quinhão perdido na esquina da história.
Mas não agem. São agidos por
agências internacionais e adoram
vestir de preto o tempo. Têm alergia à diferença. De perto a legião
de imitadores usa o dom de imitar estilos arcaicos de existir.E o paciente?
Bem, ele é feito e tratado à sutileza
dos magarefes. Todos
se unem quando se trata de barrar
a loucura. Mesmo os mais bem
intencionados, os cultos, os do Bem, os
da academia; toda a tralha conscienciosa embuída dos
princípios do cristianismo.
Esta é a condição. A máquina psi avança naturalmente nas
organizações do capital. Ninguém diz
nada. O silêncio se avulta de
cinismos sofisticados. Ele conhece as
linhas ocultas do sistema monstruoso. O terror econômico perde
para o ético. O
palavrão (ético) converteu-se em
mercadoria santa.Por toda a parte
o Estado regurgita matérias não
comestíveis. A máquina psi recebe
comensais de luxo para o banquete das auroras
perdidas. Alguém passa mal. Quem? Levem-no ao
laboratório das almas pet. Laudo
médico: encontram-se imagens do infeliz
vegetando entre florestas que nunca
existiram. Não aproveitou o banquete, não riu das criaturas
da noite. Foi excluído. Então, como fazer para
não viver morrendo entre os escombros autorizados por decretos estatais? Militamos
por uma idéia de múltiplas
vidas se ligando em direção ao sentido
dos paradoxos. Deleuze é um intercessor que serve de
linha do destino, perigosa e rápida enquanto a polícia do estado e do mercado batem à porta. Urge a camuflagem do cotidiano como porta aberta
para o infinito. Castañeda, Miller, Prigogine, Guattari,
Nelson Rodrigues, klossowski, Lovecraft, Poe, Foucault e muitos
outros, aceleram o processo, produzem a produção, escarnecem o
Velho. Tentar vestir
auroras ensolaradas no
Brasil? A máquina
psi, como sede da corregedoria do Real, breca a saída da
porta do infinito. No entanto,
tornar-se concreto em práticas
cruéis é uma possibilidade.O virtual existe.
Marx resiste. Bakunin é um aliado esquizo. A poesia poetiza. Sem tempo, o tempo se
angula, se flexiona, se dobra, se faz, se produz.
Uma alegria se espraia.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
Um louco aqui da rua. Desses que eu gosto. Não manicomializados. Tenho amizade com ele. Ele me disse, quando passei: "Quiseram me dar um Ortobom!" Respondi: "E aí?" Ele: "Eu? Eu? Eu? Eu num aceitei não. Pra que? Pra ficar certo?" KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!! Dorme na rua. Não quis o colchão. Mas, a última frase foi sensacional. É como se o colchão o consertasse. E, é óbvio, ele não quer ser consertado. A loucura o arrebatou. É melhor do que o mundo o arrebatar.
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