quarta-feira, 2 de maio de 2012


 Sem   tempo
                               
A máquina psi  avança,  devora e  submete os  que  passam e     os      que  não.  Logro democrático.  Há  para  todos.  Até  as  múmias se excitam. La  máquina    produz o Vazio preenchido pelo desejo de ser. Ser  alguém, quem não quis, quem não quer?  Psicanalistas  recitam o verbo da carne  extinta. Exumam  cadáveres  gordos. Ora,  não mais  se trata  de um regime  paranóico de produção de subjetividades em série.Nem  da  morte.  Outro estágio de dominação sorrateiramente  se insinua no coração das mentes, sejam cultas como as da academia, sejam  as  dos  estratos sociais “desfavorecidos”. La  máquina  não tem  rosto. São todos  os  rostos amalgamados em séries  perpétuas no melhor  dos  mundos. Amai  a família e  serás  salvo. É o que  lhes  resta. Mas um bilhão de famintos do  planeta Terra   no olho da cobra assassina,  assombra   os mais apáticos,   os mais  cínicos, até a Memória  encardida.  Por que  psi?  Demasiado cedo, a verdade  dos afetos  jaz em íntimas profundezas . A natureza  passa a ser   uma  Coisa-mãe separada em definitivo   de  nós.  Uma indústria aqui, acolá, todo o tempo, compõe  as conexões  com o mundo. Naturalizar o  artifício para  que  a  brutalidade  seja  aceita como uma carícia.  O tempo corre e  escorre sobre corpos mal dormidos nas estações. Então,  psiquiatras  entram em cena.  Neurologizados e corporativos, buscam o quinhão perdido na esquina da  história. Mas não agem.  São agidos  por  agências  internacionais e adoram vestir de  preto o tempo. Têm  alergia à  diferença. De perto a legião de imitadores usa o dom de imitar estilos arcaicos de existir.E o paciente?  Bem, ele  é feito e tratado à sutileza  dos  magarefes.  Todos  se unem quando se trata  de barrar a loucura. Mesmo os mais  bem intencionados, os  cultos, os  do Bem, os  da academia;   toda  a tralha conscienciosa embuída  dos    princípios  do cristianismo. Esta é a condição. A máquina  psi avança naturalmente  nas  organizações do capital. Ninguém diz  nada. O silêncio se  avulta de cinismos  sofisticados. Ele conhece as linhas  ocultas do sistema  monstruoso. O terror econômico  perde  para  o  ético. O  palavrão (ético) converteu-se em mercadoria  santa.Por toda  a parte  o Estado  regurgita matérias não comestíveis.  A máquina  psi recebe  comensais  de luxo para  o banquete das  auroras  perdidas.  Alguém passa  mal. Quem? Levem-no  ao   laboratório das  almas pet. Laudo médico: encontram-se imagens do infeliz vegetando entre florestas  que  nunca  existiram. Não aproveitou o banquete, não riu das  criaturas  da noite. Foi excluído. Então, como fazer  para  não viver morrendo entre  os  escombros autorizados  por decretos estatais?  Militamos  por  uma idéia de múltiplas vidas  se ligando em direção  ao sentido  dos paradoxos.  Deleuze é  um intercessor que serve  de  linha  do destino, perigosa e  rápida enquanto a polícia do estado e do  mercado batem à  porta. Urge a camuflagem  do cotidiano como porta  aberta  para  o infinito.  Castañeda, Miller, Prigogine, Guattari, Nelson Rodrigues, klossowski, Lovecraft, Poe, Foucault  e muitos  outros, aceleram o processo, produzem a produção, escarnecem   o  Velho.  Tentar  vestir   auroras  ensolaradas no Brasil?     A  máquina  psi, como sede  da  corregedoria do Real, breca  a saída da  porta do infinito.  No entanto, tornar-se  concreto  em práticas  cruéis é uma possibilidade.O  virtual  existe.  Marx  resiste. Bakunin é um  aliado esquizo. A poesia poetiza. Sem tempo, o tempo se angula, se  flexiona, se  dobra, se faz, se  produz.   Uma  alegria  se espraia. 
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

Um comentário:

  1. Um louco aqui da rua. Desses que eu gosto. Não manicomializados. Tenho amizade com ele. Ele me disse, quando passei: "Quiseram me dar um Ortobom!" Respondi: "E aí?" Ele: "Eu? Eu? Eu? Eu num aceitei não. Pra que? Pra ficar certo?" KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!! Dorme na rua. Não quis o colchão. Mas, a última frase foi sensacional. É como se o colchão o consertasse. E, é óbvio, ele não quer ser consertado. A loucura o arrebatou. É melhor do que o mundo o arrebatar.

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