terça-feira, 1 de maio de 2012

O QUE A "CULTURA" ESCONDE

O conceito de cultura é profundamente reacionário. É uma maneira de separar atividades semióticas (atividades de orientação no mundo social e cósmico) em esferas, às quais os homens são remetidos. Tais atividades, assim isoladas, são padronizadas, instituídas potencial ou realmente e capitalizadas para o modo de semiotização dominante - ou seja, simplesmente cortadas de suas realidades políticas (...) (...) A cultura enquanto esfera autônoma só existe a nível dos mercados de poder, dos mercados econômicos, e não a nível da produção, da criação e do consumo real.
(...)
F. Guattari - do livro Micropolítica: cartografias do desejo

2 comentários:

  1. O que quis me referir com o "deslocamento" do problema para a culpabilização do Estado, ao contrário de discursarmos sobre individualismo e irresponsabilidade, conecta-se ao fato que o alavo mais preciso de crítica é a Economia, e não o Estado. Ora, o Estado não constitui uma ciência e, peremptoriamente, a Economia é que se trata de ciência. Neste caso, a Economia é mais forte do que o Estado e o gerencia. Numa Economia de Mercado, ou seja, na Capitalista, o discurso das ciências humanas se torna uma questão de aplicação - mais exata do que a das ciências humanas, em nível matemático - dos recursos de bens, serviços e pessoal, de tal forma que seja otimizado os "interesses de adaptação ao Mercado". Como se vê, o humanismo passa longe. Está em jogo discursos extremamente fortes, se considerarmos que conhecimento é poder. Trata-se de um discurso material sobre alocação, distribuição, recondução, estabilização, expansão, restrição, não só de produção, mas também de modos de subjetivação - como é o caso da psicologia organizacional. Notoriamente, as ciências humanas (antropologia, sociologia, psicologia etc.) passam ao largo da força crítica necessária para o combate ao sucateamento das relações humanas e, quando não apoiam o sistema, se fecham nas Academias inóspitas. O Estado fica à mercê de incentivos fiscais confidenciados às empresas, que tratam de fazer um "papel social" (geração de empregos, por exemplo) com poder de contenção sobre a "intervenção do próprio Estado". Para falar a verdade, nunca gostei muito do Guattari-escritor. O Deleuze é um gênio. Não estou comparando. Só estou dizendo que a minha admiração por Guattari passa pelo devir Deleuze-Guattari. Não vejo nada no Guattari dissociado do Deleuze. Já o Deleuze sozinho, é uma multidão.

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  2. Só mais um comentário. Entendo que tudo o que disse a esse respeito é muito superficial. São linhas de pesquisa que, se houvesse tempo e propósito, seriam exploradas. Na verdade, essa linha de raciocínio, desculpabilizar o Estado e investir numa crítica econômica, à luz da Psicologia, é o inverso do que Adam Smith fez. Leia-se: Adam Smith utilizou a Psicologia para justificar sua teoria da Economia de Mercado. A idéia da mão invisível e do homem egoísta, de todos satisfazendo seus fins individuais, em prol da movimentação do Mercado, gerando o bem-estar, que é o objetivo da Economia. Numa linha inversa, eu investiria numa crítica pesada a três instituições: 1) família. 2) empresa. 3) Economia de Mercado. O Estado não passaria de um instrumento. O Estado não seria alvo.

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