SOBRE AS DEPRESSÕES
O organismo
deprimido é um corpo que perdeu as conexões com o exterior, com o fora, com as forças
ativas, com o inconsciente produtivo, com o acontecimento, com o Isso. Significa dizer que seus contornos seguem os
estratos onde o desejo estanca a produção de si. Os estratos são estabelecidos pelos órgãos.
Assim, a depressão ataca os
órgãos e por extensão
a organização dos órgãos. Se a depressão pode
ser considerada uma doença no sentido médico, ela é uma "doença" dos órgãos submetidos a um comando central que
é do organismo. Ora, entre todos
os órgãos, um está numa situação especial em
relação às forças coletivas.
É o cérebro. Ele se
coloca no limite da
relação do homem com
a natureza que o
precede. Assim, as alterações passíveis de modificação mais
rápida são as do
cérebro. O campo neuro-químico ilustra bem essa
hipótese. Um paciente
deprimido tem o cérebro
deprimido. O uso de fármacos nesse tipo de depressão é aceito e promovido como o
tratamento mais adequado. Isso significa que ele ataca a
depressão em sua alteração mais
objetiva: os neurotransmissores. O
pressuposto epistemológico é o de que
“a depressão é um problema no cérebro” e assim deve ser corrigida. Outros tratamentos como a Estimulação Magnética Transcraniana
ou o antigo ECT obedecem a lógica do cérebro avariado. Ainda assim, não se sabe
ao certo o mecanismo de ação desses dispositivos. Mas nada há de errado em
trabalhar com os recursos disponíveis
para aliviar o sofrimento
humano ou até mesmo
salvar vidas como
nos casos de
suicidas potenciais. A questão passa por
outro registro, o do corpo desejante e por extensão pelos modos de subjetivação.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria
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