segunda-feira, 14 de maio de 2012

SOBRE AS DEPRESSÕES

O  organismo  deprimido é  um  corpo que perdeu as   conexões  com o exterior, com o fora, com as  forças  ativas, com  o inconsciente  produtivo, com  o acontecimento, com o Isso.  Significa dizer que seus contornos seguem os  estratos onde o desejo estanca a produção de si. Os  estratos  são estabelecidos  pelos  órgãos.  Assim, a  depressão ataca  os  órgãos e  por  extensão  a organização dos órgãos. Se a depressão  pode  ser  considerada uma doença no sentido médico, ela é uma "doença" dos órgãos submetidos a um comando central  que  é  do  organismo. Ora, entre  todos  os  órgãos, um está numa  situação especial  em  relação  às forças coletivas. É  o cérebro. Ele  se  coloca  no limite  da  relação  do   homem  com a natureza  que  o  precede. Assim, as alterações passíveis  de modificação  mais  rápida  são as  do  cérebro. O campo neuro-químico ilustra bem essa  hipótese. Um paciente  deprimido  tem o cérebro deprimido. O uso de  fármacos nesse  tipo de depressão é aceito e promovido  como  o tratamento mais adequado.  Isso  significa que  ele ataca  a  depressão  em sua alteração mais objetiva: os  neurotransmissores. O pressuposto epistemológico  é  o de que  “a depressão  é  um problema no cérebro” e assim deve ser corrigida. Outros tratamentos como a Estimulação Magnética Transcraniana ou o antigo ECT obedecem a lógica do cérebro  avariado. Ainda  assim, não se  sabe  ao certo  o mecanismo de  ação desses  dispositivos. Mas  nada há  de  errado  em trabalhar com os  recursos disponíveis  para  aliviar  o sofrimento  humano  ou até  mesmo  salvar  vidas  como  nos  casos  de  suicidas potenciais. A questão passa  por  outro registro,  o do  corpo  desejante e por  extensão pelos  modos de subjetivação.
(...)
Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

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