VIAGENS DE MIGUEL

Miguel completa 1 ano e 2 meses no dia 10 de maio.  Tão jovem e  prenhe de  grande  sabedoria,  ele   me atinge em cheio. Verdade que eu  já lera muita coisa do Deleuze sobre o que é uma  criança. Tudo me impressionara. Ela, a criança,  no rol dos “meus” personagens conceituais. No entanto,  com Miguel foi e está sendo diferente.Não pelos ditames da biologia paterna. Isso é coisa de familiarismos esgotados. O que importa é o seguinte: Miguel  sorri à Vida, tanto a que ele quer (mexer no botão do  computador) como a que ele não quer (ir dormir). O seu sorriso chega   e nos chega ( eu e a mãe) sob a forma de  um grito da natureza, expressando a linguagem que diz:" é isso aí; o  que vocês querem?”  O seu corpo se espalha pelas superfícies e buracos do mundo. Se deixar,    permanece  nesse devir   pois encarna o  puro processo do desejo. Assim,   alguma   frase para descrevê-lo  talvez   acabe um tanto  conceitual.   Nada.  Miguel me constitui enquanto ser vivente e fico pensando o que  dizer para além de uma besteira, coisa tão comum em mim e nos adultos. De todo modo, uma política se traduz como  diferença migueliana.  Um dia ele saberá do que falo...

A. M.