sexta-feira, 24 de junho de 2011

Leitor, talvez esperes que eu invoque o ódio ao iniciar esta obra! Quem te diz que não aspirarás, banhado em inumeráveis volúpias, o quanto quiseres, com tuas narinas orgulhosas, grandes e esguias, dando voltas sobre teu próprio ventre como o tubarão, no ar belo e negro, como se entendesse a importância desse ato e a importância ainda maior do teu legítimo apetite, lenta e majestosamente, as rubras emanações? Eu te garanto, elas agradarão aos dois buracos informes do teu horripilante focinho, ó monstro, desde que tenhas te dedicado antes a respirar três mil vezes seguidas a consciência maldita do Eterno! Tuas narinas, que ficarão desmesuradamente dilatadas pelo contentamento inefável, pelo êxtase imóvel, não pedirão outra coisa ao espaço, subitamente embalsamado por perfumes e incensos; pois ficarão saciadas  por uma felicidade completa, como a dos anjos que habitam a magnificência e a paz dos aprazíveis céus.

Lautréamont - do livro Cantos de Maldoror

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