O anoréxico é um apaixonado: ele vive de várias maneiras a traição ou o duplo desvio. Ele trai a fome, porque a fome o trai sujeitando-o à refeição familiar e a toda uma política da família e do consumo (substituir a isso um consumo interrompido, mas neutralizado, asseptizado); enfim, ele trai o alimento, porque o alimento é traidor por natureza (idéia do anoréxico que o alimento está cheio de larvas e de venenos, vermes, bactérias, essencialmente impuro, daí a necessidade de escolher e de extrair dele partículas, ou de cuspi-las novamente). Estou morrendo de fome, diz ela, precipitando-se sobre dois "yogurts dietéticos". Engana-a-fome, engana-a-família, engana-o-alimento.Em suma, a anorexia é uma história de política: ser o involuido do organismo, da família ou de uma sociedade de consumo.
G. Deleuze e C. Parnet - do livro Diálogos
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