quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

AUTO-ENTREVISTA (excerto) - 30/08/2007

P-O seu  discurso  é contra  a psiquiatria?
R-  De modo  algum. A  psiquiatria  jamais  é  recusada   em sua  contribuição  científica  e tecnológica.  Trata-se de  outra  coisa. Ela é, isto sim, interpelada e  posta  no seu  “devido  lugar”,  submetida  às  injunções sócio-histórico- político-econômicas. Buscamos  retirar  o caráter de essência  intocável do  saber  psiquiátrico e    conectá-lo  com  saberes múltiplos vindo de áreas  heterogêneas. Assim, talvez  seja   possível “oxigenar” as concepções e  as  práticas   psiquiátricas  sobre os  transtornos mentais. Essa  é  a idéia.

P- Como  você    vê  o  uso  dos  psicofármacos  em patologia  mental?
R-Considero uma opção  terapêutica  muito  útil  na  medida  que sejam observados  critérios  clínicos como a ética,  o diagnóstico, as  circunstâncias  do  atendimento, a relação de poder  médico-paciente, entre  outros.

P-  Na sua  proposta,  há um uso insistente  do termo “subjetividade”. Por  quê?
R- Na verdade, a  subjetividade  em Saúde  Mental costuma  ser  considerada a  partir do que  a psiquiatria, enquanto  instituição hegemônica, estabeleceu. Ou seja, haveria   uma “subjetividade-doente mental”   vista   como  fato    natural. Tudo  gira  em torno desta  premissa, inclusive  os  que  lidam  com o paciente e  o próprio  paciente.  Eles   passam a ser  psiquiatrizados.  No entanto, outras  subjetividades  existem, pelo  menos  virtualmente, esperando apenas condições para se afirmarem. E tal  afirmação  só  virá   com  práticas  sociais concretas.

Antonio Moura - do livro Trair a psiquiatria

Nenhum comentário:

Postar um comentário