A PSIQUIATRIA TEM CHEIRO?
(...) os médicos transformaram-nos em insetos. Espetaram com alfinetes as nossas doenças nos prontuários, um carrinho cheio de nomes de doenças que pela manhã empurram entre os leitos. Não ousam exterminar-nos com os inseticidas como fazem com as baratas. Para nós escolheram o método da humilhação. Num hospital morre-se de indiferença.
Emma Santos
O caminho da resistência não ir de encontro ao poder, entenda-se "contra o poder", estabelecido em exercício circunstanciado. Existem vários caminhos de resistência, mas todos passam pelo corpo. A questão da subjetividade, o problema de se trabalhar com a subjetividade, é que ela - MESMO DE FORA, isto é, mesmo a subjetividade não-interiorizada ou não interiorizante - passa pelo corpo-organismo. Nessa circunstância, não é do corpo spinoziano que se fala, e sim do corpo que subjetiva a medicação, do corpo-remédio. Mais concretamente, daquele que toma o remédio. Ora, a subjetividade não interiorizante ou não-interiorizada dirá sobre o paciente dito esquizofrênico: "Não existe esquizofrenia. O remédio serve para controlá-lo". Acontece que isto não impedirá que o paciente dito esquizofrênico tome o remédio. É uma estratégia inócua. Prefiro insistir com o corpo, pois ele pode ser fortalecido de maneiras não codificadas e que, portanto, não são passíveis de captura. Para o corpo spinoziano, os afetos são tudo. E isso basta. É muito mais profícuo tratar do modo como a medicação afeta um corpo do que buscar a subjetividade que há no paciente diagnosticado que toma o medicamento. São operações distintas, que, não raramente, são tratadas como iguais.
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