O ARTISTA E O POVO
O assassino é aquele que bombardeia o povo existente, com populações moleculares que não param de tornar a fechar todos os agenciamentos, de precipitá-los num buraco negro cada vez mais vasto e profundo. O poeta, ao contrário, é aquele que solta as populações moleculares na esperança que eles semeiem ou mesmo engendrem o povo por vir, que passem para um povo por vir, que abram um cosmo. E ainda aqui não se deve tratar o poeta como se ele se empanturrasse de metáforas: nada garante que as moléculas sonoras da música pop não disseminem, aqui e ali, um povo de um novo tipo, singularmente indiferente às ordens do rádio, aos controles dos computadores, às ameaças da bomba atômica. É nesse sentido que a relação dos artistas com o povo mudou muito: o artista deixou de ser o Um-Só retirado em si mesmo, mas deixou igualmente de dirigir-se ao povo, de invocar o povo como força constituída. Nunca ele teve tanta necessidade de um povo, no entanto ele constata no mais alto grau que falta o povo- o povo é o que mais falta (...)
G. Deleuze e F. Guattari - do livro Mil platôs
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