SALVADOR, MEU AMOR
Salvador é uma cidade linda e miserável. O profundo desnível sócio-econômico que lhe constitui é encoberto por uma produção midático-subjetiva bem engendrada. Isso é crônico e cínico. Na chamada alta estação e proximidade do carnaval, a "ditadura da felicidade", como diz Sérgio Bianchi, deixa vazar mais, mais violência. Claro, contra o trabalhador que sai dos shoppings luxuosos às 23 hs. E contra muitos outros... Mais que nunca , o modelo de relação social da antiga senzala permanece oculto, mas em pleno funcionamento no cotidiano. No meio disto, um pacote turístico multicolorido é consumido pelos próprios baianos, deslumbrados com o ser-baiano, identidade que lhes fornece um território afetivo-existencial-regional. Orgulho de ser baiano. No entanto, quando explode uma greve como a dos policiais, as soluções que surgem são antigos remédios. Vísceras são expostas e o corpo metastático da cidade continua a inchar, ainda que a comparação médica lhe seja fraca e a realidade mais cruel do que se imagina.
Antonio Moura
Nenhum comentário:
Postar um comentário