O que é isso, Lula? |
Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
A IMAGEM DO PROGRESSO É PODEROSA
Não só não constatamos nenhuma relação de causa e efeito entre o crescimento dos recursos tecno-científicos e o desenvolvimento dos processos sociais e culturais, como parece evidente que assistimos a uma degradação irreversível dos operadores tradicionais de regulação social.
(...)
F. Guattari - do livro As três ecologias
TEATRO DA CRUELDADE
Todo o trabalho do ator repousa sobre uma hipótese que, seja ou não correta, é sempre verificável: a de que a alma é fisiologicamente "um novelo de vibrações" (A.Artaud). Essa hipótese permite ao ator tomar seu corpo como espaço material onde essas forças se desdobram e se produzem; e cabe a ele saber captar e irradiar as vibrações, aprender a refazer seus trajetos e pontos de confluência e dispersão para criar um espectro plástico e infinito, campo magnético que consome e cria formas e imagens. E isso nada tem a ver com o delírio descontrolado.
(...)
Urias C. Arantes - do livro Artaud: teatro e cultura
SUBJETIVIDADE A-SUBJETIVA
(..) (...) O nosso problema aqui é o conceito de subjetividade fabricado em meio a um conjunto de nomes da clínica que a psiquiatria entronizou como sendo “A clínica dos transtornos mentais”. Ela começa com as condutas socialmente inadequadas, o que se consuma no diagnóstico (impreciso) de psicose, mas se expande, incluindo até mesmo quadros não psicóticos. Sua ambição é abarcar a gama das condutas humanas num sistema classificatório. É uma clínica estagnada no ponto em que o cérebro estabelece limites anátomo-fisiológicos (e estruturais) ao pesquisador. Entretanto, como no caso dos afetos. precisamos de uma máquina teórica que capte a velocidade do universo subjetivo, traga respostas do que se passa na Vivência. E que não se reduza às cintilações fisico-químicas do organismo, nem mesmo ao imaginário do eu ou às regras de conduta na sociedade. Buscamos outra coisa. Para que isso seja possível, é necessário considerar o processo de produção desejante em situações concretas.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
PRODUÇÃO DA VERDADE
"O espírito puro é a mentira pura. Enquanto o sacerdote passar por uma classe "superior", o sacerdote, esse negador, esse caluniador da vida por "ofício", não há resposta à pergunta: o que é a verdade? A verdade voltou-se de pernas para o ar, se o consagrado advogado do nada e da negação passa por ser o representante da verdade..."
F. Nietzsche
POR FIM AO JULGAMENTO
Ao encontrar a loucura, é preciso despersonalizá-la. Significa adotar o viés coletivo na apreensão semiológica.Tudo é loucura porque o real não é racional. A história da humanidade mostra isso, é isso, dito e feito numa clareza ululante. Desse modo, o mais bizarro dos comportamentos nos constitui e deve ser acolhido sem julgamento... moral. Assim, começa o trabalho de busca pela diferença.
A.M.
SOBRE GRUPOS
(...) (...)Existe a realidade dos grupos submetidos. Ela é relevante... Pode ser ao eu do líder, ao nome da família, à imagem do rei, às palavras do mestre, a certa filosofia, às coerções de uma organização, à competitividade, à palavra da mídia, à ciência, ao consumo automático, à arte, à revolução, a Deus, ao partido, etc. A lista é praticamente infinita. O que esses dados heterogêneos tem em comum é a função de conduzir o grupo em direção a objetivos fora dele. Ou seja, o grupo só existiria a partir de algo que o ultrapassa como vivência concreta de si. Ele ergue uma crença no Imaginário. Este habita o grupo, fabrica uma natureza que o “autoriza” a assumir uma “essência”. Irão aí medrar as futuras burocracias e os micro-fascismos, por onde a instituição-Grupo forma um refúgio bem sucedido das forças coletivas da história, do tempo e do caos. “Você não é dos nossos”, “morte ao estrangeiro”, “só entra aqui sendo...” são palavras de ordem que passam a ressoar como formações inconscientes. As pessoas, os indivíduos, os eus, se encaixam nesse grupismo protetor. O desejo grupal passa a maquinar corpos em busca de territórios estáveis onde alguém se reconheça. “Eu sou o grupo”. Trata-se de uma subjetividade padronizada em linhas endurecidas da existência. Como diz Guattari, um grupo–sujeitado.
(...)
A.M. do texto Grupos e caos, a ser publicado
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
DELÍRIO
(...) (...) As crenças existem pró eriçados da razão. O capitalismo universal é a vontade dos néscios da máquina. Todos a servem com prazer. A roda da fortuna premia os corretos. Não tenho mais referências, exceto às do oceano de sangue verde. Procurei diálogos abertos, francos, verdadeiros,com os representantes das oligarquias do pensamento. Não obtive êxito, pelo contrário. O que me restou foi o corpo exposto em linhas da arte do precipício. A medicina é uma mina de dinheiro. Conversei com médicos cristãos. Eles até que atenderam as minhas preces, desde que não se tocasse no essencial. O essencial é a igreja. Tudo é vendável. Argumentei por vielas escondidas sobre a carne dos anjos. Nada feito. Então me tornei um delírio de igualdade, coisa de sonhos acordados: isso não se usa mais. Abortei a palavra objetiva e retornei a pequenas crenças da noite. Ela( a noite) me abrigou do nada, como se diz: “venha ser um dos nossos”. Quando percebi, era já muito tarde e a aurora se desfazia em cultos trágicos. Disse ao psiquiatra que ele enganara a todos, menos à loucura, testemunha sem código estável. E morreu aí. Não ele, mas a psiquiatria dos olhos opacos.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
terça-feira, 28 de agosto de 2012
MIL DEPRESSÕES
Na prática clínica, insistimos no dado (facilmente constatável) de que não existe " A depressão", mas síndromes depressivas espalhadas num universo de etiologias e expressões clínicas. Tratar, pois, o paciente como MULTIPLICIDADE implica em seguir linhas de potência que precedam os códigos instituídos como verdade . Um exemplo óbvio: o diagnóstico cidológico: para que serve? A quem serve?
A.M.
O CAPS TAMBÉM CRONIFICA?
O problema da "dependência" institucional é multifacetado; pode ser atribuído à falta de suporte familiar, à escassez de oportunidades no mercado de trabalho, à idade avançada de alguns pacientes e a algumas características próprias das patologias. De qualquer maneira, esta é uma questão fonte de muita insegurança referida por alguns de nossos usuários e requer um enfrentamento técnico, clínico e político.
(...)
Patrícia F. Bichara e Telma C.Palmieri - do texto O acompanhamento de residências terapêuticas pela equipe de um hospital-dia
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
REMÉDIOS QUÍMICOS
(..) (...)Quando o paciente vai buscar o remédio, o psiquiatra entrega, situação mais comum do que se supõe. Um dueto pessoal funciona como máquina de tratar sem tratar. O remédio é uma extensão do médico, um cabo conectado com a verdade. A substituição do tratamento real pela receita burocrática sequer é notada. É possível que a questão do tratamento nem se ache na cena. O médico não passou um remédio. É o contrário: o Remédio é quem passou o médico para o rol dos agentes do corpo apassivado.
(..)
A.M.
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domingo, 26 de agosto de 2012
ACADEMIA INTOCÁVEL
O Aparelho Universitário, onde, talvez, fosse (ou devesse) ser o lugar do Pensamento, na verdade, é bem mais uma peça pregada no coração dos súditos orgulhosos do capital. Professores e pesquisadores : Eles pensam que pensam, mas não pensam. Somente reproduzem ordens implícitas. Esta é a sua função. Mestres, doutores, pós-doutores, toda a galera arrogante dos condutores do "pensamento do real", adotam a estratégia do refúgio controlado aos fluxos do Acaso e às intempéries do capitalismo aparentemente vencedor. Todos, ou quase todos, se protegem. Normal. É claro que é preciso salvar a própria pele e se dar bem. O custo são as tetas dadivosas do Estado, sempre interessado em prover e promover justificativas honestas (financeiramente à altura, claro...) ao bem do cidadão. Mas o Estado é o monstro, como diz Nietzsche. Diante de tal disparidade de poderes, me recolho à insignificância dos esquizo-negativistas à pesquisa clínica da psiquiatria biológica, aquela mesma, vendida aos Laboratórios Farmacêuticos Internacionais. Nada a dizer. Tudo a fazer.
A.M.
PERSONALIDADES TRANSTORNADAS
(..) (...)As linhas singulares estão fora das categorizações da CID-10 ou de outras classificações. Sob a ótica da diferença, o paciente é um mundo inexplorado e ainda não humanizado. Não há pureza nessa concepção.Trata-se de espreitá-lo tanto quanto se conseguir escapar do clichê médico. Examinar o borderline é se pôr fora das definições do que é ou não o limite,o corte,a fronteira entre a saúde e a doença, o anormal e o anormal,a potência e a impotência. Para isso ser possível, a experiência do contato com a loucura é essencial. Não é preciso ser louco ou ficar louco, mas sim entrar num devir-loucura, tornar-se loucura se o propósito é ajudar, acolher,criar.Tal disposição não costuma ser bem vinda nas organizações promotoras da fé numa racionalidade apaziguadora. Isso inclui a psiquiatria e suas agências de apoio à promoção de uma felicidade quimicamente induzida.No entanto, entramos num terreno onde a química não resolve,e pior, oferece a sedação como simulacro da morte.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
sábado, 25 de agosto de 2012
TRANSTORNOS INGLÓRIOS
Não gosto do termo "portador de transtorno mental". Ele carrega 1-uma origem biomédica, como quando se diz "portador do vírus HIV"; 2-tem uma conotação substancialista (a mente como "coisa"); 3-sugere "desordem=transtorno", o que nem sempre ocorre. A temida "desordem" pode estar fora do paciente, nas circunstâncias que o fizeram "doente"; 4-exclui o tal "portador"do mundo dos "não-portadores", nós, os normais; 5-está engatado, conectado à CID-10, cap. F., um monumento à pseudo-ciência e um desserviço aos processos subjetivos do paciente.
A.M.
POESIA
A linguagem poética fere de morte o princípio de identidade do discurso inteligível da técnica. Uma experiência-limite não precisa de palavras. Isso desconcerta a clínica do cérebro. Esta, busca neuro-lugares e pontos fixos. Cortem aqui. Cortem ali. A representação do Mesmo é batata. Abram alguns cérebros e lá estará o rigor mortis. Enfim, um método infalível. Ele gargalha sobre a última fronteira. Que se passa? Ainda bem: há poesia injetada em agulhas finas. A linguagem desliza: criança, poeta, louco, vidente, artista, a tralha dos sem-eu, todos descem pelo conta-gotas da resposta aos sintomas. Não há como se explicar aos cientistas. O tecido poético cria muito antes da medição dos contornos da hipófise. É matriz e argamassa das construções exatas sobre o funcionamento dos neurônios do baixo clero. Precisamos de mais poesia, mais, até saturar os átomos da cabeça pensante. No entanto,o pesquisador acadêmico enuncia o veredicto das horas perdidas em conversas tolas. A condenação dirige o condenado às labaredas do inferno das psicoses, dos retardos e das demências irreversíveis.Toca o horror da patologia, limpa a mesa cirúrgica com estabilizadores do humor.Assim fica fácil destruir subjetividades em nome da ciência. Sem metáfora.
(...)
A.M.
FUTURO REPROVADO, por Cristovam Buarque
O Brasil foi reprovado no vestibular para o futuro. Porque o futuro tem a cara de sua escola no presente.
Nas últimas séries do nosso Ensino Fundamental, as escolas públicas, onde estuda a maior parte de nossos alunos, a média do IDEB –Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - foi de 3,9. As escolas particulares foram aprovadas, mas com a sofrível nota 6. A média ponderada pelo número de alunos é de 4,1, envolvendo 1,8 milhões de alunos nas particulares, com a média 6,0, e 12,4 milhões de alunos, nas públicas, com média 3,9.
No Ensino Médio, a média ponderada, incluindo as particulares é de 3,7.
Além da reprovação geral, o IDEB mostra que o Brasil é dividido pela desigualdade na educação dos filhos dos pobres e dos filhos das classes médias e altas.
Na mesma semana, o Jornal Nacional da Rede Globo mostrou a situação de nossas escolas, passando a sensação de que assistíamos a notícias de um terremoto, que está a devastar nosso futuro.
Outro programa, o “CQC”, da Rede Band, mostrou escolas em uma cidade do Piauí, certamente piores do que as piores do Mundo. Foi possível ver o futuro. E não pareceu bonito.
Apesar disso, o MEC comemorou os resultados e ainda divulgou nota à imprensa, no dia 14 de agosto, dizendo que “O Brasil tem motivos a comemorar”.
O Ministro está no cargo há apenas oito meses e não tem culpa por este desempenho, mas deveria reconhecer a tragédia, a vergonha e convencer a presidenta da República a fazer pela educação o esforço que vem fazendo na economia.
A presidenta precisa entender a gravidade da falta de infraestrutura educacional, ainda maior do que foi a falta de infraestrutura física, e convocar todo o País a se empenhar por uma urgente Revolução na Educação de Base.
CRIAR E CRITICAR
(...) (...) Não acreditamos na crítica como ato que propicie uma criação. A criação é que propicia uma crítica.A criação vem primeiro. Saúde é um conceito nominal. Aparelho engendrado por tecnocratas do Estado,vive para a idéia, o imaginário, a transcendência e as boas intenções humanísticas. Com o conceito de mental ocorre o mesmo. Criar nada tem a ver com essa ladainha político-conceitual. A arte de criar conceitos, como diz Deleuze, é a aventura do novo. Em saúde mental, criar é despersonalizar-se sem culpa, ressentimento ou nostalgias egóicas. Começa pela ausência de títulos e pompas. Uma gratuidade.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
A BUSCA
Cheguei ao Rio em 1975, para trabalhar no CPPII, Engenho de Dentro, como médica residente. No pátio do Hospital vi se repetirem as mesmas cenas: prisioneiros e destituídos abandonados à própria sorte. Após um ano de árduo trabalho nas enfermarias, conseguimos algumas transformações, o suficiente para que nós, residentes, fóssemos postos para fora. São as forças da Instituição Total. A partir daí inicio meu trabalho em ambulatório público e durante os últimos vinte anos tentei desviar dos labirintos dos asilos a clientela psicótica. Algumas pequenas vitórias, muita experiência e a certeza da precariedade do instrumental psiquiátrico.
(...)
Ana Rocha - do texto Experiência da Toca - in Saudeloucura - subjetividade, 1997.
SAIR DOS TRILHOS
(..) (...) Através da vivência é que o paciente organiza as suas crenças. Vivência diz respeito ao significado da realidade e aos afetos postos nesse significado. Crença e afetividade são elementos-chave para adentrar aos modos de subjetivação.Estes elementos compõem “processos de singularização”.Daí o delírio se constitui como um território existencial que se expressa por singularidades. Acompanhar as linhas singulares do paciente é não identificá-lo a uma essência patológica. Desse modo, a patologia compõe um mosaico clínico que a ultrapassa enquanto fato inscrito na cultura. O não-patológico está misturado ao patológico. E mais, o patológico nem sempre pode (ou deve) ser completamente excluído das condições psíquicas do paciente. O delírio é o acontecimento, ou seja, o devir como processo de vida que precede as manifestações clínicas. Mesmo estruturas visíveis como o cérebro, constituem a vertigem do tempo que não volta. O interesse dessa premissa está na possibilidade de incluir o paciente no rol das atividades humanas (sociais) sem reduzi-lo a alguém a quem faltaria razão. Ora, a razão (ou a racionalidade) é construída socialmente...
(...)
A.M.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
MONSTROS
(...) (...) O que é o monstro numa tradição ao mesmo tempo jurídica e científica? O monstro da Idade Média ao século XVIII de que nos ocupamos, é essencialmente o misto. É o misto de dois reinos, o reino animal e o reino humano: o homem com cabeça de boi, o homem com pés de ave - monstros. É a mistura de duas espécies, é o misto de duas espécies: o porco com cabeça de carneiro é um monstro. É o misto de dois indivíduos: o que tem duas cabeças e um corpo, o que tem dois corpos e uma cabeça, é um monstro. É o misto de dois sexos: quem é ao mesmo tempo homem e mulher é um monstro. É um misto de vida e de morte: o feto que vem à luz com uma morfologia tal que não pode viver, mas que apesar dos pesares consegue sobreviver alguns minutos, ou alguns dias, é um monstro.
(...)
M. Foucault - do livro Os anormais
Desfecho judicial do caso Breivik
Colegas da APB:
Penso que o desfecho atribuído pela Justiça norueguesa ao caso Breivik terá repercussões no âmbito da Psiquiatria Forense.
Anders Breivik é condenado a 21 anos de prisão pelo massacre de 77 na Noruega
UOL, em São Paulo
O ultradireitista Anders Behring Breivik, 33, autor confesso do massacre que matou 77 pessoas no ano passado, na Noruega, foi considerado penalmente responsável pelas mortes, nesta sexta-feira (24), e vai cumprir a pena máxima segundo as leis do país: 21 anos de prisão.
Por decisão do tribunal de Oslo, a setença é prorrogável e pode se estender indefinidamente, se a Justiça norueguesa avaliar que o réu continua a representar um perigo para a sociedade. Breivik responde pelas mortes causadas em um duplo atentado de 22 de julho de 2011, em Oslo e na ilha de Utoya, na Noruega. Para a Justiça norueguesa, Breivik é penalmente responsável pelos atentados.
A custódia é uma figura legal do Direito norueguês, que na prática pode equivaler a uma prisão perpétua.
O extremista detonou uma caminhonete-bomba no complexo governamental de Oslo, causando a morte de oito pessoas, em seguida se dirigiu à Utoya (40 km da capital), onde realizou um massacre no acampamento das Juventudes Trabalhistas (AUF, na sigla em norueguês), matando outras 69.
Breivik, que está detido na prisão de Ila e assumiu o crime, já era considerado culpado pelas mortes. O que foi discutido no julgamento é se ele era penalmente responsável ou não --levando em conta seu estado mental-- e se devia ir para a prisão ou receber tratamento psiquiátrico. Segundo a juíza Wenche Elizabeth Arntzen, que presidiu o julgamento, o veredito é unânime, e exige que Breivik cumpra no mínimo 10 anos de prisão. A pena deverá ser cumprida na prisão de segurança máxima Illa.
O atirador, que havia dito que recorreria da setença caso fosse considerado doente mental e condenado a tratamento psquiátrico, recebeu o veredito com um sorriso. Ao ser interrogado em abril, afirmou que a pena de morte ou a absolvição seriam os únicos veredictos justos em seu processo. A Noruega não aplica pena de morte.
Durante as dez semanas do processo, que começou em 16 de abril, o atirador se fartou de repetir suas ideias. Na última audiência, em 22 de junho, fez ameaças e disse que, caso não seja libertado, podem acontecer mais atentados. "Meus irmãos acompanham o caso enquanto planejam novos ataques. Eles podem levar 40 mil pessoas à morte", disse.
O terrorista ainda reiterou que os ataques foram "em defesa" de seu grupo étnico e contra a "invasão" muçulmana, e que não reconhece sua culpa porque "às vezes é necessário cometer uma barbárie para frear outra ainda maior".
Em seu discurso, Breivik acusa o Partido Trabalhista, que controla a política do país há décadas, de destruir o povo norueguês e sua cultura ao defender o multiculturalismo. Para ele, todos os povos europeus estariam ameaçados. A solução para evitar o aumento do conflito seria criar reservas para os nacionalistas longe do "inferno multiétnico".
Problema psiquiátrico
A Promotoria chegou a solicitar a internação de Breivik em um hospital psiquiátrico, por entender que existe uma "dúvida" sobre ele ser responsável penal dos atos, de acordo com as leis norueguesas.
Seu advogado, Geir Lippestad, se opôs e solicitou que o condenem "à pena mais leve possível". Lippestad ressalta que o réu sofre delírios de grandeza e se considera salvador.
De acordo com o segundo estudo mental ao qual foi submetido, o réu tem Transtorno de Personalidade Dissocial. O primeiro concluiu que ele sofre de esquizofrenia paranoide. Nenhum dos 37 especialistas encontraram sintomas de psicoses. Só dois deles o definiram como psicótico.
R$ 3,8 milhões ao ano
Autoridades norueguesas da área da saúde calculam que manter o extremista confinado em uma prisão psiquiátrica custaria ao país cerca de 1,5 milhão de euros por ano (R$ 3,8 milhões).
Se for considerado que ele tem problemas mentais, será construído um departamento especial de alta segurança em Ila, já que os hospitais psiquiátricos existentes não possuem as condições necessárias exigidas. Eles avaliam que Breivik precisaria do acompanhamento de pelo menos quatro pessoas durante o dia e três durante à noite.
Um homem de 29 anos, admirador de Breivik, foi preso no último sábado (18), na República Tcheca, com um arsenal de armas, munição e explosivos. Segundo a polícia local, o material poderia ter sido usado em um atentado. (Com agências internacionais)
Abnoel Souza - psiquiatra
A LADAINHA CIENTÍFICA
As conquistas, os avanços no campo neurocientífico não equivalem a um avanço no campo psiquiátrico. Oferecem, claro, instrumentos práticos e teóricos para se pensar e lidar com o cérebro. No entanto, a psiquiatria não é apenas o cérebro. Ou, pelo menos, não deveria sê-lo. Reduzir a complexidade dos fenômenos mentais ao cérebro. é no mínimo, adotar uma visão tosca da psicopatologia. Desse modo, a questão não é contra a neurociência, mas contra um certo uso da neurociência no campo da clínica psicopatológica. O cérebro MENTE.
A.M.
CONDIÇÕES PARA SE PASSAR REMÉDIOS QUÍMICOS
(...) (...) O que está em jogo não é o psiquiatra-pessoa. Este obedece, só obedece (mesmo sem saber). A questão é outra. São as relações institucionais, a materialidade do ato clínico. O eu-consciência sustenta a psicopatologia. Hoje,a equação se alarga. Temos eu=consciência=cérebro, base ontológica para se passar remédios.Na ausência de uma teoria psiquiátrica da subjetividade, quem responde ao psiquiatra é o “eu-consciência-cérebro”. Este é o “sujeito”.Eu-consciência para o manejo psicoterápico cognitivista. Cérebro para o farmacológico, não necessariamente nesta ordem.
(..)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
ROSTIFICAÇÃO FARMACOLÒGICA
(...) (...)A clínica psicopatológica tornou-se a clínica psicofarmacológica. Isso não é um mal em si, mas um fato da cultura médica que incide sobre o trabalho com o paciente. Em termos empíricos, o próprio paciente torna-se um produto de forças institucionais; elas fabricam a clínica e por extensão o paciente. Tais forças se explicitam na psiquiatria, são a psiquiatria. No espaço do atendimento, do exame, do encontro com o paciente, elas se concretizam como rostidade farmacológica. É um regime de aparência corporal, semiótica, que traça uma linha terapêutica antes mesmo de começar o tratamento. As psicoses, por excelência, são objeto desse processo de rostificação. A cena extremada, o paciente impregnado por neurolépticos (alterações extra-piramidais) e outros signos menos perceptíveis, compõem a visibilidade do espaço clínico. Assim, fazer psiquiatria nos dias atuais tem a opção farmacológica como palavra de ordem: prescreva mais e mais remédios químicos. Isso não vale apenas para os que estão científico e juridicamente autorizados a fazê-lo, mas para todos os que lidam com a loucura. Nosso foco pode ser a chamada “equipe técnica”em saúde mental. Todos medicam, todos estão medicados, medicalizados numa produção subjetiva inconsciente e incessante. Isso é de uma tal obviedade que se esconde em cotidianos naturalizados.
(...)
A.M.
DIAGNÓSTICO
(...) (...)Perante a CID-10 e o DSM-IV, não é possível diagnosticar. O diagnóstico não existe. Comecei do zero. Esqueci dos códigos. Escutei vozes dizendo: “ele pensa que é o apocalipse”. Ninguém por perto para testemunhar. Abri as janelas. Manhã tão bonita manhã. No entanto, a doutora avisou que vai chegar mais tarde. Hoje é dia de visitas inesperadas. Aos que vierem, usem a vida como estimulante. No entanto, figuras empoladas pronunciam discursos doutos. Nada da expressão do desejo. Nada mesmo. Que fazer? O círculo é estreito, a rede é fina, o controle é (quase) completo. Resta o pensamento: caminhar veloz, conectar aliados insuspeitos, brincar com o peso do diagnóstico. Poe. A loucura não tem diagnóstico. Os loucos circulam soltos, mesmo prisioneiros. A sociedade industrial imprime no corpo dos seus súditos a marca da psiquiatria biológica. Por isso, hoje, escondo o segredo das origens. Nada de genética. A universidade não entende. O povo não entende. O diagnóstico enterra suas esporas sobre corpos previamente dominados. Somos todos inúteis úteis.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
ONDE SE PASSA A LUTA?
Mesmo a cidade mais estriada secreta espaços lisos: habitar a cidade como nômade , ou troglodita. Às vezes bastam movimentos, de velocidade ou de lentidão, para recriar um espaço liso. Evidentemente, os espaços lisos por si só não são liberadores. Mas é neles que a luta muda, se desloca, e que a vida reconstitui seus desafios, afronta novos obstáculos, inventa novos andamentos, modifica os adversários. Jamais acreditar que um espaço liso basta para nos salvar.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari - do livro Mil platôs
terça-feira, 21 de agosto de 2012
ARTE
(...) (...) Falamos da arte como composição de linhas subjetivas que buscam expressar e criar um mundo. É possível captar essas forças no Encontro com o paciente. A psiquiatria capta outras forças, é bem verdade, as do organismo físico-químico adoecido pelas condições em que vive. Isso significa fabricado por múltiplas determinações que escapam ao controle do eu. Escapam também ao enquadre linear causa-efeito. Contudo, o que o paciente diz sentir é o que importa. A arte, surge, então, como resistência às situações existenciais adversas. Nesse sentido ela está fora da psiquiatria, não havendo encontro possível. A linguagem da arte é inseparável da sensação, pura sensação que constitui a subjetividade como semiótica a-significante. Ou seja, não sendo submetida à consciência (“eu, enquanto indivíduo”), a produção da arte é uma produção de singularidades que retira matéria viva do caos . Na psiquiatria atual, no lugar da produção,o produto é capturado (e imobilizado) por exames de imagem. Sob controle.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
ESTÃO REMIXANDO O FASCISMO
o primeiro papa do século 21
vestiu o uniforme nazista
e atuou na retaguarda
dos exércitos do 3º Reich
que invadiram a pátria do papa
que ele substituiu
e manteve vivo às caneladas
por mais de duas décadas
enquanto sua maçonaria centenária
apossava-se dos cargos-chave
da burocracia eclesiástica
preparando-se para enfrentar
os exércitos do islão desembestado
numa nova guerra fanática
estão remixando o fascismo
como DJs remixam músicas antigas
em suas maquininhas
tecnológicamente corretas
em noites de raves azougueadas
preparadas para as quarentenas
das futuras epidemias anunciadas
enquanto os tribunais puritanos
preparam a nova inquisição
sob a aparente calmaria política
e a total paralisia das vanguardas
num mundo sem utopias
e cheio de ideologias vagas
um novo fascismo
está sendo cultivado pelos pamonhas
como o ôvo de uma serpente
chocado num ninho de cegonhas
os novos infames agem nas sombras
instalando seus exércitos de imbecis
nos sub-escalões da administração pública
nos meios artísticos
nas redações dos jornais...
são batalhões de idiotas
infiltrados em todos os lugares
para evitar que algo fora do anunciado
possa quebrar o protocolo
são reacionários preparados
para engessar processos criativos
interromper reformas estruturais
impedir o tráfego de informações novas
evitar qualquer processo revolucionário
graças à segmentação do trabalho
e ao monitoramento da informação midiatizada
estes monstros estão camuflados na sociedade
como camaleões esfomeados
capazes de pequenas audácias
muitos sequer desconfiam
que estão sendo recrutados
ou tratados como cobaias
e não é raro flagrar alguém de esquerda
defendendo teses da direita
bebericando stolichnaya
vários agentes do novo fascismo
estão orbitando em torno de gente famosa
paparicando pessoas endinheiradas
como cortesãos de segunda classe
acreditando absorver por osmose
características dos seus senhores
sobrevivendo numa pseudocorte
de uma Maria Antonieta restaurada
amealhando sobras de brioches
e aguardando o momento exato
para afiarem a guilhotina
e se apossarem dos brincos
da cabeça cortada
por conta da vaidade narcisista
acreditam-se simpáticos
e merecedores de atenção
embora sejam insolentes
e donos de princípios éticos
de baixíssimo calão
avaliam e selecionam as pessoas
pelo saldo na conta bancária
pela aparência, pelo status-quo
adoram ser porteiros de alas vips
distribuindo pulserias seletivas
aos acessos de áreas de exclusão
onde empresas pagam a conta do porre
e alugam o lazer e o ócio
de quem não é mais capaz
de expressar nenhuma opinião
estes vampiros laicos
trabalham em barricadas e trincheiras
protegendo seus escolhidos
do assédio de quem quer que seja
estabelecendo um feudo
do qual são porteiros
...e carcereiros!
quando estabelecidos em gabinetes e palácios
filtram informações, agem como censores
tirando proveitos pessoais
dos segrêdos, boatos e fuxicos
que interceptam e promovem aos cochichos
como cupins num compensado
espalham-se para todos os lados
rezando a missa ao contrário
em nome do padre
do espírito santo
opus-dei, amém
estes pilantras disciplinados
sentem-se à vontade
para falar de deus
fazendo a faxina dos demônios
como a que, nos balcãs
ameaçavam os seus
as celebridades que estão na moda
não passam de sub-lideranças úteis
manipuladas em suas vaidades fúteis
como marionetes travestidas de artistas
sustentadas e pagas pelos gestores do capital
e sua máquina publicitária global
garantindo-lhes a visibilidade
em troca de energia vital
para passarem as tropas em revista
e manterem sob controle
os mal-sucedidos e os arrivistas
nazistas batidos nas fronteiras
ganharam a batalha
50 anos depois da derrota capitulada
unificando a moeda européia na marra
com parâmetros do marco alemão
conquistando por dentro
todos os estados europeus
evitando os assaltos
das divisões armadas
posando de bem-feitores da humanidade
novos fascistas estão indo à luta
em meio à era da política corrupta
aceitando provisórias lideranças farjutas
como à Cristo, um dia, Judas aceitou
até chegar o momento propício
para trair seu comando fictício
e o derrubar com escândalos políticos
estão remixando o fascismo
como DJs de boates gays
remixam músicas do passado
e, desta vez, até você que era contra
se não estiver atento e não tomar cuidado
pode sentir-se atraído e fascinado
pela reinvenção do estado
num mundo cibernético
e celibatário
mesmo os judeus mais ortodoxos
que sobreviveram com remorsos de seus mortos
estão com seus interesses financeiros
comprometidos no mercado dos capitais voláteis
e do jeito que este mundo está indo
assimilarão o novo modelo recauchutado
e decerto participarão dos seus resultados
estão remixando o fascismo
na cara de todo mundo
com um cinismo descarado
que se sustenta às custas da apatia
das ideologias sem doutrina
evaporadas como éter na cirurgia
de um passado enterrado num porre de vodka
entre as cinzas da glasnost e da perestroika
estão remixando o fascismo
e, desta vez, você não vai poder
escolher o lado nem os adversários
desta vez: a repetição da história como farsa
trabalhada pelos publicitários
será um excepcional conto do vigário!
Tavinho Paes
PSIQUIATRIZAR A EXISTÊNCIA
(...) (...) A subjetividade psiquiátrica se compõe de linhas existenciais traduzidas em papéis sociais diversos, a depender do contexto prático. Um técnico não psiquiatra poderá pensar, perceber, sentir e atuar tanto quanto um psiquiatra na relação com a loucura, e por extensão, com o paciente. Um técnico não-psiquiatra pode ser até “mais psiquiatra” que o psiquiatra.
(...)
A.M. - do texto Grupos e caos, a ser publicado
domingo, 19 de agosto de 2012
NOTA CRÍTICA
Uma crítica bem fundamentada aos psicofármacos considera aspectos (não necessariamente nessa ordem): 1- sociopolíticos; 2-econômicos; 3-clínicos;4-mercadológicos; 5-epistemológicos;6-diagnósticos; 7-científicos; 8-institucionais; 9-acadêmicos; 10-éticos. Como se nota, a questão é muito complexa. Desse modo, considero a conexão diagnóstico-fármaco um eixo fecundo de análise já que aí estão contidos os demais aspectos citados acima.
A.M.
UMA NOVA VALORAÇÃO DAS COISAS
O que distingue o nosso século XIX não é a vitória da ciência, mas sim a vitória do método científico sobre a ciência.
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Tudo o que entra no consciência como "unidade" é já imensamente complicado: temos sempre somente uma aparência de unidade.
O fenômeno do corpo é o fenômeno mais rico, mais claro, mais compreensível: deve ser posto metodicamente em primazia, sem que descubramos algo sobre seu significado último.
F. Nietzsche - do livro Vontade de poder
AINDA SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA
(...) (...) Como foi dito acima, o psiquiatra torna-se outra coisa, um devir, devir-feiticeiro, estranha metamorfose que se atualiza num meio tecnológico saturado de mercadorias. No corpo a corpo com o paciente , ele age. Sobretudo, nada acumula, nada conhece, não como estágio zero do conhecimento, mas como um ingênuo diante do cosmos. O feiticeiro é apenas um dos seus disfarces. Composto em meio às serializações tecno-científicas, ele traça um equilibrismo ético-político. Ao mesmo tempo, lida com a palavra e a escuta não só como condições ao atendimento, mas como o próprio atendimento. A fala provém da espontaneidade-criativa inscrita no ato da entrevista. A escuta está dada como sensibilidade para o novo, o heterogêneo, o estranho. Trata-se de uma clínica das multiplicidades: uma prática, a se fazer, a se inventar. Sem modelo.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
SOBRE A LÓGICA DO SENTIDO ( DELEUZE )
Renata – eu leio isso assim... como sendo o seguinte: ele foi contra tudo aquilo que sempre se fala como sendo bom que é o profundo, sempre o profundo, então se o meu amor é profundo, ele é melhor que o seu que é um amor superficial e sempre assim, essa é a nossa idéia, aí ele vem e repete isso, ele vai querer dizer: - não mas eu não quero falar do profundo, eu quero falar do superficial – então para mim vem uma imagem que é a do ponto e do plano, quanto mais você abrange alguma coisa, com um ponto ou com um plano? Com um plano né? Então para mim, a superfície é um plano e a profundidade é um ponto, assim: - eu te conheço profundamente – então você é um ponto e eu vou explorar aquele ponto e só aquele apenas... e se eu falo em superficialidade, eu estou querendo abranger esse plano todo e daí ele matou quando ele diz que tudo que está na superfície tem correspondência com o que está na profundidade, então se você – por isso eu falei do liso e do estriado – desliza na superfície, você de qualquer forma está atendendo e alcançando, abordando, de alguma maneira as profundezas dessa superfície.
Grupo Transversal - Unicamp
sábado, 18 de agosto de 2012
O poema é antes de tudo um inutensílio.
Hora de iniciar algum
convém se vestir roupa de trapo.
Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.
Faz bem uma janela aberta
uma veia aberta.
Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
enquanto vida houver.
Ninguém é pai de um poema sem morrer.
Manoel. de Barros
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