ARTE DA CLÍNICA
(...) (...) Acordar, vestir-se, trabalhar, ir à rua, fazer algo, encontrar alguém, etc. Ora, o chamado doente não é propriedade da Saúde Mental. Por mais “dependente” que seja dos seus cuidados, existem linhas de singularização existencial traduzidas num estilo de viver/adoecer. Elas lhe conferem potência. A arte entra nesse contexto em níveis justapostos. São eles: a) Subversão da linguagem verbal pela linguagem não-verbal marcada por signos a-significantes. Outras sintaxes, outras semânticas, outros léxicos.b) Criação de territórios existenciais insólitos, mas suficientemente capazes de se sustentarem por si mesmos (a autonomia).c) Primado da espontaneidade criativa(no sentido usado por Moreno) no lugar da adequação repetitiva aos padrões sociais vigentes. d)Utilização do humor (a leveza do dançarino) como recurso prático para o enfrentamento com os problemas do cotidiano. e) Reinvenção da corporalidade para além do corpo automatizado e apassivado produzido pelos fármacos. f) O trabalho terapêutico incluindo temas como a morte, o amor e o poder, etc, os quais podem ser dramatizados em papéis imaginários (sociodrama).g) por fim, a arte como arte de viver, talvez a maior de todas as artes.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria
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