sábado, 25 de agosto de 2012



POESIA 

A linguagem poética fere de morte o princípio de identidade do discurso inteligível da técnica. Uma experiência-limite não precisa de palavras. Isso desconcerta a clínica do cérebro. Esta, busca neuro-lugares e pontos  fixos.  Cortem  aqui. Cortem ali. A representação do Mesmo é batata. Abram alguns  cérebros e lá estará o rigor mortis. Enfim, um método infalível. Ele gargalha  sobre a última fronteira. Que se passa? Ainda bem: há poesia injetada em   agulhas finas. A linguagem desliza: criança, poeta, louco, vidente, artista, a  tralha  dos sem-eu, todos descem pelo conta-gotas da  resposta aos sintomas. Não  há  como se explicar  aos  cientistas. O tecido poético cria  muito antes  da medição dos contornos da hipófise. É matriz e argamassa das construções exatas sobre o funcionamento dos neurônios do baixo clero. Precisamos de mais poesia, mais, até saturar os átomos da cabeça pensante. No entanto,o pesquisador acadêmico enuncia  o veredicto das  horas perdidas  em conversas tolas. A condenação dirige o condenado às  labaredas do inferno das  psicoses, dos retardos e das  demências irreversíveis.Toca o horror da  patologia, limpa a mesa cirúrgica com estabilizadores do humor.Assim fica fácil destruir subjetividades  em nome da ciência. Sem metáfora.
(...) 
A.M.

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