quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ROSTIFICAÇÃO  FARMACOLÒGICA

 (...) (...)A  clínica psicopatológica tornou-se a clínica psicofarmacológica. Isso não é um mal em si, mas um fato da cultura médica  que incide sobre o  trabalho com o paciente. Em termos  empíricos, o próprio  paciente torna-se  um produto de forças institucionais; elas  fabricam a clínica e por extensão o paciente.  Tais forças  se explicitam na psiquiatria, são  a psiquiatria. No espaço do atendimento, do exame, do encontro com o paciente, elas se concretizam como rostidade  farmacológica.  É um regime de aparência corporal,  semiótica,  que traça uma  linha terapêutica antes mesmo de começar o tratamento. As psicoses, por excelência, são  objeto   desse processo  de  rostificação. A cena extremada, o paciente  impregnado  por   neurolépticos  (alterações  extra-piramidais)  e outros  signos  menos perceptíveis, compõem a visibilidade do espaço clínico. Assim, fazer  psiquiatria nos dias atuais tem  a opção farmacológica como  palavra de ordem: prescreva mais e mais remédios químicos. Isso não  vale apenas  para os que estão científico e juridicamente autorizados a fazê-lo, mas para todos os que lidam com a loucura. Nosso foco pode ser a  chamada “equipe técnica”em saúde mental. Todos medicam, todos estão medicados,   medicalizados numa  produção subjetiva  inconsciente e incessante. Isso é de uma  tal obviedade que se esconde em cotidianos naturalizados. 
(...)
A.M.

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