VIAGENS DE MIGUEL
Miguel, com 1 ano e 5 meses, só quer rua. Quando percebe que vou sair sem ele, chora muito, como a exigir: "me leve com você". Às vezes levo. Na rua, fica solto, ou pelo menos, acredita estar solto. Observo os seus olhinhos. À volta, as coisas circulam sem parar e ele tenta acompanhá-las. Cores, sons, signos de toda ordem... Ele próprio é um movimento. E vai à caça de sensações que nós, adultos, há muito esquecemos. Reagindo às interdições (necessárias, claro!) Miguel não se abate e logo em seguida conecta-se com o infinito que o mundo lhe traz. Isso parece claro. A sua relação primordial é com o Infinito, não o tomando como conceito idealista, mas como a concretude do real. Continuo lhe seguindo. Desempenho papéis, não apenas o de pai, mas me deixando levar por linhas flexíveis de um viver simples. Aprendiz da alegria. Ou de um simples viver, sabendo que não só Miguel, mas UMA criança me ensina. E fabrica um sentido ao sem sentido.
A.M.
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