quinta-feira, 23 de agosto de 2012

DIAGNÓSTICO
                                            
                            
 (...) (...)Perante a CID-10 e o DSM-IV, não é possível diagnosticar. O diagnóstico não existe. Comecei do zero. Esqueci dos códigos. Escutei  vozes dizendo: “ele pensa que  é o apocalipse”. Ninguém por perto para testemunhar. Abri as  janelas.  Manhã  tão bonita  manhã. No entanto, a  doutora avisou que vai  chegar mais  tarde. Hoje  é dia de visitas inesperadas. Aos  que  vierem,  usem a vida  como estimulante. No entanto, figuras empoladas  pronunciam discursos  doutos. Nada da expressão do desejo. Nada mesmo. Que fazer? O círculo é estreito, a rede é fina, o controle é (quase) completo. Resta o pensamento: caminhar veloz, conectar  aliados insuspeitos, brincar com o peso  do diagnóstico. Poe. A loucura não tem diagnóstico. Os  loucos circulam soltos, mesmo prisioneiros. A sociedade industrial  imprime no corpo dos seus  súditos a marca da  psiquiatria biológica. Por isso, hoje, escondo o segredo das origens. Nada de genética. A universidade não entende. O povo não entende. O diagnóstico enterra suas esporas  sobre  corpos previamente  dominados.  Somos  todos  inúteis úteis.
(...)
A.M. - do livro Trair a psiquiatria

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