quinta-feira, 15 de novembro de 2012

QUAL SAÚDE MENTAL?

(...) (...) A saúde não é assunto só da medicina, muito menos  a saúde mental. Não é possível   falar de  uma saúde mental oficial. Não há decreto para o conceito, porque não há o conceito e  sim conceitos criados sob contingências sociais e políticas. O conceito  oficial  de Saúde Mental é  uma   instituição, modelo abstrato de intervir sobre o outro, o paciente. A saúde mental   deixa  de ser um processo para se tornar um aparelho. Daí, trabalhar  a  partir  da experiência do paciente, mormente na psicose, requer do técnico ir “além” desse aparelho. Este não dá conta da complexidade das  crenças e  dos afetos. Usamos a loucura como uma espécie  de  não-conceito,  campo de intensidades fluidas. Ele  segue o fluxo dos devires, empurra e isola a saúde mental para  o campo da repetição serial do diagnóstico. Enfim, libera um espaço de criação e redefine o propósito de encontrar o paciente e não o de examiná-lo. Sabemos  que  isso é difícil  pois a saúde mental opera num regime binário de significação: normais ou doentes. É uma marca de poder. Conta com dispositivos reducionistas para chegar ao paciente. Entre  eles, o exame psíquico. Este enquadra a expressão do outro como doença, patologia,  síndrome, transtorno, tanto faz. Chegar ao paciente não é encontrá-lo. Este pensamento se materializa em práticas de fabricação e controle de subjetividades individuadas: o louco varrido, o traste. Há um uso da loucura como representação da realidade, e não a própria realidade. 
(...)
A.M.

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