domingo, 13 de janeiro de 2013

DIAGNÓSTICO

Perante a CID-10  e  o  DSM-IV, não é possível diagnosticar. O diagnóstico não existe. Comecei do zero. Esqueci dos códigos. Escutei  vozes dizendo: “ele pensa que é o apocalipse”. Ninguém por  perto para  testemunhar. Abri as janelas. Manhã tão bonita manhã. No entanto, a doutora avisou que  vai  chegar mais  tarde. Hoje  é dia de visitas inesperadas.  Aos que  vierem, usem a vida  como estimulante. No entanto, figuras empoladas  pronunciam discursos doutos. Nada da  expressão  do desejo.  Nada mesmo. Que  fazer? O círculo é estreito, a rede é fina, o controle  é  (quase)  completo. Resta o pensamento: caminhar  veloz, conectar aliados insuspeitos, brincar com o peso do diagnóstico. Poe. A loucura não tem diagnóstico. Os loucos circulam soltos, mesmo prisioneiros. A sociedade industrial  imprime no corpo dos seus súditos a marca da  psiquiatria biológica. Por isso, hoje, escondo o segredo das  origens. Nada  de genética. A universidade não entende. O povo não entende. O diagnóstico enterra suas esporas sobre corpos previamente  dominados. Somos  todos  inúteis úteis.

A.M.

Um comentário:

  1. Sou de um tempo
    De fracasso
    A década perdida
    Tempo dos amores ao telefone
    Tempo do aperto e da inflação
    Não sou de um tempo
    Ressentido
    Contra a ditadura
    Tempo dos sonhos desmesurados
    Tempo das mudanças inocorrentes
    Sou o filho dos ressentidos
    A superar o fracasso

    Isac Fernandes

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