DIAGNÓSTICO
Perante a CID-10 e o DSM-IV, não é possível diagnosticar. O diagnóstico não existe. Comecei do zero. Esqueci dos códigos. Escutei vozes dizendo: “ele pensa que é o apocalipse”. Ninguém por perto para testemunhar. Abri as janelas. Manhã tão bonita manhã. No entanto, a doutora avisou que vai chegar mais tarde. Hoje é dia de visitas inesperadas. Aos que vierem, usem a vida como estimulante. No entanto, figuras empoladas pronunciam discursos doutos. Nada da expressão do desejo. Nada mesmo. Que fazer? O círculo é estreito, a rede é fina, o controle é (quase) completo. Resta o pensamento: caminhar veloz, conectar aliados insuspeitos, brincar com o peso do diagnóstico. Poe. A loucura não tem diagnóstico. Os loucos circulam soltos, mesmo prisioneiros. A sociedade industrial imprime no corpo dos seus súditos a marca da psiquiatria biológica. Por isso, hoje, escondo o segredo das origens. Nada de genética. A universidade não entende. O povo não entende. O diagnóstico enterra suas esporas sobre corpos previamente dominados. Somos todos inúteis úteis.
A.M.
Sou de um tempo
ResponderExcluirDe fracasso
A década perdida
Tempo dos amores ao telefone
Tempo do aperto e da inflação
Não sou de um tempo
Ressentido
Contra a ditadura
Tempo dos sonhos desmesurados
Tempo das mudanças inocorrentes
Sou o filho dos ressentidos
A superar o fracasso
Isac Fernandes