sábado, 19 de janeiro de 2013


ESQUERDA

"As ciências experimentais poderiam impelir a esquerda a pensar um acordo que
não deriva de nenhuma sujeição a uma autoridade, mas, ao contrário, da
possibilidade de afirmar um desacordo para resolver um problema comum. É o
que eu aprendi dos cientistas: os conflitos entre as interpretações de um
fenômeno são secundários em relação ao problema que os juntou. A
possibilidade de resolver tal problema é mais forte do que aquilo que o
divide. O que deveria interessar à esquerda são os problemas que impelem a
pensar, que produzem um devir. Agrada-me muito a definição que *Deleuze* deu
em seu *Abecedário*: quem é de esquerda não parte de quem é próximo, mas de
quem está distante. Isto significa sentir-se responsável por quem perdeu o
trabalho, por quem sofre uma injustiça. Mas, significa também pensar como
compor um mundo em comum, um problema que obriga a uma nova relação com a
natureza e não só com os humanos. Por isso, a esquerda não deveria
enfileirar-se com as vítimas enquanto vítimas, mas apoiá-las naquilo que
elas podem tornar-se além de sua identidade de vítimas."

I. Stengers

2 comentários:

  1. A vítima inexiste. A vítima é uma criação humanista, decorrente de um desdobramento da identificação com o agressor. Só existe o agressor, agressores. Das duas, três. Ou você se identifica com o agressor, subjugando-se, ou você se identifica com o agressor, enquanto vítima. A terceira opção é a reagir, lutar. Opção pouco escolhida para quem não entende a filosofia de uma arte marcial.

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  2. Entendam que esse tipo de posição se encontra nas menores coisas. É isso que eu desejo que vocês entendam. Aliás, desejo mais. Desejo que você partam da idéia de que os menores posicionamentos são experimentações embriológicas de posicionamentos mais complexos e responsáveis. Isto é, o agressor não precisa ser um serial killer, um perverso nato ou um capitalista serial, mesmo porque isso não existe de fato, existindo apenas teoricamente. Às vezes, o sujeito é até seu amigo, mas ele quer aparecer de vez em quando, não quer saber como você está e depois vai embora, todavia, por simples protocolo, ele te convida. Ou seja, isso é uma agressão também, meus caros. Não é só um murro na cara que é uma agressão. Nesse sentido, seus pequenos posicionamentos refletem a maneira como você será aonde você quer chegar. A menos que não queira chegar a lugar algum, continuem levando uma vazia. É por isso que eu digo: estados depressores podem servir para mudanças de posicionamento, de estilo de vida, a depender de como você encare a prova. As provas não estão somente no papel. Eu, por exemplo, não quero nenhum tipo de relação de fachada. E não faço questão nenhuma de usar de boa política por conta de familiarismos abjetos. Disso decorre que uma revolução pode nem acontecer, porém isso não quer dizer que eu não esteja preparado para ela.

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