domingo, 6 de janeiro de 2013

PAISAGEM COM DUAS TUMBAS E UM CÃO ASSÍRIO

Amigo,
levanta-te para que ouças uivar
o cão assírio
As três ninfas do câncer estiveram dançando,
meu filho.
Trouxeram umas montanhas de lacre vermelho
e uns lençóis duros onde o câncer estava dormindo.
O cavalo tinha um olho no pescoço
e a lua estava num céu tão frio
que teve de rasgar seu monte de Vênus
e afogar em sangue e cinza os cemitérios antigos.

Amigo,
desperta, que os montes ainda não respiram
e as ervas de meu coração encontram-se em outro lugar.
Não importa que estejas cheio de água do mar.
Eu amei por muito tempo um garoto
que tinha uma plúmula na língua
e vivemos cem anos dentro de uma navalha.
Desperta. Cala. Escuta. Ergue-te um pouco.
O uivo
é uma longa língua roxa que deixa
formigas de espanto e licor de lírios.
Já vêm até a rocha. Não alargues tuas raízes!
Aproxima-se. Geme. Não soluces em sonho, amigo.

Amigo!
Levanta-te para que ouças uivar
o cão assírio.


PAISAJE CON DOS TUMBAS Y UN PERRO ASIRIO

Amigo,
levántate para que oigas aullar
al perro asirio.
Las tres ninfas del cáncer han estado bailando,
hijo mío.
Trajeron unas montañas de lacre rojo
y unas sábanas duras donde estaba el cáncer dormido.
El caballo tenía un ojo en el cuello
y la luna estaba en un cielo tan frío
que tuvo que desgarrarse su monte de Venus
y ahogar en sangre y ceniza los cementerios antiguos.

Amigo,
despierta, que los montes todavía no respiran
y las hierbas de mí corazón están en otro sitio.
No importa que estés lleno de agua de mar.
Yo amé mucho tiempo a un niño
que tenía una plumilla en la lengua
y vivimos cien años dentro de un cuchillo.
Despierta. Calla. Escucha. Incorpórate un poco.
El aullido
es una larga lengua morada que deja
hormigas de espanto y licor de lirios.
Ya vienen hacia la roca. ¡No alargues tus raíces!
Se acerca. Gime. No solloces en sueños, amigo.

¡Amigo!
Levántate para que oigas aullar
al perro asirio.

(Poemas do livro Poeta en Nueva York, de Federico García Lorca.)
Traduções: Claudio Daniel

Um comentário:

  1. Tudo bem. Enfrentemos então a questão dos sentimentos. Certamente, encontraremos o que Freud chamou e Jung destrinchou: a ambivalência do afeto. Digamos que a palavra "afeto", nessa circunstância, tem o significado de sentimento, porque o afeto spinoziano se trata de outra coisa. Nesse sentido, a tal da compaixão, por hora levantada, pode gerar um mau encontro ou um bom encontro. Porque é o sentimento que depende do afeto, e não o contrário. Dessa maneira, não existem sentimentos maus, como angústia, ódio, etc., ou bons, como a compaixão, bondade, etc. A compaixão pode gerar um mau encontro, assim como o ódio pode gerar um bom encontro. Duas pessoas que colidem e enfrentam o ódio, por exemplo, podem se ver de outra forma. Normalmente, não. Normalmente se acabam. Mas, nesse campo, tudo é muito fluido. Amor pode virar ódio e ódio, amor. Agora, atacar a compaixão por si só e acusá-la de DEPRESSORA é uma infelicidade total.

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