QUEM FALA?
(...) (...) Propomos substituir o conceito de consciência e do eu, pelo de modo de subjetivação. Quem fala são os modos de subjetivação. A subjetividade surge como um conjunto de linhas expressivas materializadas no contexto do Encontro com o paciente. Um modo de subjetivação pode ser devido, por exemplo, ao contato do paciente com o seu meio profissional, o papel que lá desempenha, suas condições de trabalho. Ou, num caso mais óbvio, do encontro do paciente com as condições de um serviço de saúde mental: o Caps. A consciência (modo de subjetivação) funciona de acordo com instâncias concretas de vida, territórios existenciais e dobras subjetivas. A semiótica psiquiátrica traz o conjunto qualitativo das alterações da consciência e deixa de perguntar que forças psíquicas desencadearam e/ou mantém essas condições psicopatológicas. Falamos de outra coisa: um sistema aberto às causas extra-médicas que se prolongam em trajetórias afetivas não codificáveis por equipamentos tecnológicos. A psicopatologia clínica inscreve-se num campo movediço e por si mesmo caótico. Um caotizar incessante de movimento infinito. No entanto, é preciso realizar um corte no caos para tornar possíveis significações estáveis. Entramos num universo irredutível à psicopatologia médica. Fora da psiquiatria há outros mundos. Não é possível psiquiatrizá-los senão com golpes de força ou dissimulação objetiva de uma violência subjetiva. São subjetivações não “cadastradas” Elas resistem... a experiência religiosa sob os mais variados credos, matizes e rituais: candomblé, espiritismo, evangélica, esotérica, cósmica, mística, zen budista, os transes, experiências de saída do corpo, os casos de para-normalidade, etc, situações onde a noção de consciência e do eu se esfumam em prol de uma vivência mais alargada da Realidade. As categorias nosológicas da psiquiatria de nada nos servem para captar esse “interior” subjetivo.
(...)
A.M.
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